terça-feira, 3 de junho de 2014

A manter debaixo de olho!

(...)
Levá-lo-ia ainda mais longe, quando fosse buscar as recordações da sua primeira vez.
“Dá-te. Dá-te sem medo como eu me dei ao meu professor de Economia.”
Aquela seria a sua última volta da combinação secreta que o destrancaria. A partilha da primeira vez que a mulher tinha sentido um pénis, que fora também a sua primeira penetração; a que a desvirginara.
Ela tinha na altura, já vinte anos – provavelmente a única mulher do século a perder a virgindade tão tarde. A esterilidade adormecera-lhe a líbido, e passara pela adolescência e puberdade armada em forte, mas só Deus e ela é que sabiam do seu desespero. Evitava pensar nisso, ao mesmo tempo que passava a imagem da gaja meio desligada e superior às merdas dos namoricos.
Acabara o secundário e entrara para Economia no ISCTE. Passou o primeiro ano com uma perna às costas; normal, sem nunca se ter distraído com aquelas outras coisas. Mas certa tarde do fim de maio, no gabinete do professor, nunca o conseguiu explicar, mas o que nunca lhe dera para ali, deu-lhe tudo duma vez.
O professor achava-lhe piada, e ao seu jeito irreverente.
No meio duma dúvida qualquer, e entre um roça daqui e roça dali ao qual ela não reagia, quando ele parou encostou-lhe ela a sua perna – e deixou-a lá encostada à do professor. Entredentes e sem tirar os olhos da resma de fotocópias, disse-lhe que era virgem, e que queria deixar de o ser. Que queria que fosse ele.
O professor pousou-lhe a mão na perna sobre o joelho esquerdo e subiu-a lentamente; intoxicado pelo toque de pele nova. Também ele era virgem numa coisa daquelas. Nunca lhe havia tocado nada do que a tantos colegas devia tocar, para situações daquelas situações granjearem até estatuto de cliché de filme porno, e calhava-lhe logo o totoloto: uma miúda perdida de boa e virgem! Se alguma coisa o fez pensar nas consequências que dali eram certas de advir ninguém sabe, pois o que é certo, é que meia hora depois, entravam separados por quatro minutos numa pensão manhosa e sombria no Martim Moniz.        
Teve o professor a ética e hombridade de o fazer como devia. A sua única e inesquecível aventura com uma aluna viria a ser, com toda a experiência dum homem maduro, a mais perfeita que a primeira vez duma mulher pode ser sem envolver outras magias e enlevos de romance e amor. Foi uma tarde de sexo e descoberta, de mais sexo e depois mais sexo ainda.
O Veloso transportar-se-ia àquele momento em que a mulher se entregara à penetração do maduro e obscenamente veiado tarolo. Como ela, também ele sentiria com o olhar vago o seu corpo a cooperar e a entregar-se à invasão mais que assegurada. Inflamar-lhe-ia o que lhe restasse da mente com o sopro das últimas palavras.
“Hoje, meu amor, és tu a puta de serviço; a minha puta!”
(...)


Rosa Mateus in "Ribatejo Ardente - Segredo, Erotismo e Paixão"
Um surpreendente romance carregado dum erotismo deliciosamente explícito, sentido. A não perder, brevemente nas bancas!

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