(...)
Levá-lo-ia ainda mais longe, quando fosse buscar as recordações da sua
primeira vez.
“Dá-te. Dá-te sem medo como eu me dei ao meu professor de Economia.”
Aquela seria a sua última volta da combinação secreta que o destrancaria. A
partilha da primeira vez que a mulher tinha sentido um pénis, que fora também a
sua primeira penetração; a que a desvirginara.
Ela tinha na altura, já vinte anos – provavelmente a única mulher do século
a perder a virgindade tão tarde. A esterilidade adormecera-lhe a líbido, e
passara pela adolescência e puberdade armada em forte, mas só Deus e ela é que
sabiam do seu desespero. Evitava pensar nisso, ao mesmo tempo que passava a
imagem da gaja meio desligada e superior às merdas dos namoricos.
Acabara o secundário e entrara para Economia no ISCTE. Passou o primeiro
ano com uma perna às costas; normal, sem nunca se ter distraído com aquelas
outras coisas. Mas certa tarde do fim de maio, no gabinete do professor, nunca
o conseguiu explicar, mas o que nunca lhe dera para ali, deu-lhe tudo duma vez.
O professor achava-lhe piada, e ao seu jeito irreverente.
No meio duma dúvida qualquer, e entre um roça daqui e roça dali ao qual ela
não reagia, quando ele parou encostou-lhe ela a sua perna – e deixou-a lá
encostada à do professor. Entredentes e sem tirar os olhos da resma de
fotocópias, disse-lhe que era virgem, e que queria deixar de o ser. Que queria
que fosse ele.
O professor pousou-lhe a mão na perna sobre o joelho esquerdo e subiu-a
lentamente; intoxicado pelo toque de pele nova. Também ele era virgem numa
coisa daquelas. Nunca lhe havia tocado nada do que a tantos colegas devia
tocar, para situações daquelas situações granjearem até estatuto de cliché de filme porno, e calhava-lhe
logo o totoloto: uma miúda perdida de boa e virgem! Se alguma coisa o fez
pensar nas consequências que dali eram certas de advir ninguém sabe, pois o que
é certo, é que meia hora depois, entravam separados por quatro minutos numa
pensão manhosa e sombria no Martim Moniz.
Teve o professor a ética e hombridade de o fazer como devia. A sua única e
inesquecível aventura com uma aluna viria a ser, com toda a experiência dum
homem maduro, a mais perfeita que a primeira vez duma mulher pode ser sem
envolver outras magias e enlevos de romance e amor. Foi uma tarde de sexo e
descoberta, de mais sexo e depois mais sexo ainda.
O Veloso transportar-se-ia àquele momento em que a mulher se entregara à
penetração do maduro e obscenamente veiado tarolo. Como ela, também ele
sentiria com o olhar vago o seu corpo a cooperar e a entregar-se à invasão mais
que assegurada. Inflamar-lhe-ia o que lhe restasse da mente com o sopro das
últimas palavras.
“Hoje, meu amor, és tu a
puta de serviço; a minha puta!”(...)
Rosa Mateus in "Ribatejo Ardente - Segredo, Erotismo e Paixão"
Um surpreendente romance carregado dum erotismo deliciosamente explícito, sentido. A não perder, brevemente nas bancas!
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"A maior desgraça que pode acontecer a qualquer escrito que se publica, não é muitas pessoas dizerem mal, é ninguém dizer nada." Nicolas Boileau