Sempre sem abrir os olhos, coloquei uma almofada
debaixo de mim, que me deixou com o rabo bem espetado no ar. Queria senti-lo
assim a escorregar lentamente entre os meus lábios gulosos. Aproveitado o
néctar de macho que ainda tinha dentro de mim, que eu sentira ser injetado
direto dos colhões do meu marido, apontei-o e fi-lo entrar em mim até que a
cabeçorra me fez suspirar quando me empurrou o cérvix, e forcei-o ainda mais um
pouco: eu queria sentir o contacto pesado dos tomates da base a abafar-me o
clitóris.
Nada como essa sensação para me assegurar que o tinha
deliciosamente metido! Quando lhes senti o toque nas bordas da minha vagina, bem
esticadas à volta daquele quilo e meio de prazer carnal – ainda que fosse a
fingir – deixei-me ficar o mais imóvel que a minha respiração descompassada me
permitia!
Estava em comunhão com A entidade suprema; Aquele a
Quem normalmente chamam de Deus. Estava finalmente em Zen. Podia continuar mas
acredito que já me terão entendido. Percebi então o êxtase visível na cara das
mulheres que se entregam ao fisting;
ao prazer simplesmente tão intenso da extrema dilatação.
Se melhor não soubesse da espantosa elasticidade e capacidade
de recuperação duma vagina, e teria certa a minha permanente e irreversível destruição
como mulher para que homem fosse que de futuro me penetrasse. Mas a ideia, só
por si, era arrasadora.
Tive receio, não do que podia acontecer, mas por me
conhecer demasiadamente bem para ter a certeza de que o experimentaria:
tocar-me lenta e saborosamente no clitóris e nos lábios a toda a volta daquele
cavalar objeto de delírio que a gravidade me ajudava a engolir até mais não
poder entrar.
Foi um orgasmo diferente. Quando digo diferente é
porque foi incomparável com qualquer outro que em mais de vinte anos de sexo a
solo ou acompanhada alguma vez experimentara. Comecei a senti-lo formar-se nos
confins da minha mente pelo proibido do que estava a fazer, pelo risco de me
lesionar, pela dor para lá do subtil, que implacável, tanto me empurrou para o
abismo. Foi com uma série de beliscões ora num ora noutro mamilo, magistralmente
sincronizados com os leves mas insistentes toques no meu clitóris obscenamente
ereto que me deixei cair numa sucessão de orgasmos que me devastaram o corpo
completamente deixando-me num farrapo.
No meio do turbilhão, naquele transe em que mergulhei
e parecia eternamente aprisionada, visões da cena dos cavalos que a Rosa
descrevera: de alguma forma senti-me como aquela égua bestialmente montada pelo
garanhão que com o seu membro do comprimento, e grossura, do braço dum homem a
emprenhara.
A falta da voluptuosa sensação de peso, que teria
tornado aquele perfeito momento sublime, foi a última coisa de que me lembro
antes de me ter apagado.
Voltei a mim minutos depois, com a perda de sentidos o
dildo escorregara para fora e sentia-o encostado ao meu rabo. Mexi-me
lentamente e rebolei, ficando de lado. Não me conseguia decidir se seria melhor
enrolar-me em posição fetal, se com as pernas esticadas.
De cada vez que tentava mexer um músculo, toda eu
tremia, e lá consegui encontrar uma posição meio-termo entre uma e outra que me
permitiu recuperar daquele inesquecível orgasmo.
E era oficial. Nunca o reconheceria a mais ninguém,
mas estava efetivamente doida. Tinha ensandecido, e não havia volta a dar.
Aquele Ribatejo Ardente era a mais potente das drogas
para os mais exigentes viciados em erotismo.
E eu estava a ficar dependente! Dependente não, que é
coisa de gente fina; eu estava mesmo era a ficar agarrada!
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"A maior desgraça que pode acontecer a qualquer escrito que se publica, não é muitas pessoas dizerem mal, é ninguém dizer nada." Nicolas Boileau