terça-feira, 3 de junho de 2014

Tardes loucas de uma mulher casada (3ª Parte)

Com a libido apaziguada e as carnes doridas, a razão pôde enfim sobressair e deixar o bom senso governar um pouco. Levantei-me, esqueci por um dia a necessidade de economizar em tudo a toda a hora e enchi a banheira. Precisava dum longo e retemperador banho de imersão, que se revelaria milagroso.
Depois do almoço -  uma salada rápida - agarrei-me ao trabalho. Desta vez consegui abstrair-me o suficiente do conteúdo e focar-me na forma. Não foi propriamente fácil ‘’apanhar’’ o estilo por vezes confusamente embrenhado da Rosa, que para chegar dois metros ao lado de onde estava, levava o leitor a dar uma volta à Europa passando pela Ásia e visitando a Oceânia.
A minha primeira reação foi de cortar, mas tudo o que lá estava fazia falta – mais cedo ou mais tarde. Resumindo e baralhando, a tarde lá se passou sem que eu me tivesse portado mal.
Quando o Nando chegou, e animado pela noite anterior, mostrou como estava desejoso de, o mais rapidamente me apanhar novamente na cama. Eu não lhe podia espetar novamente com a batida desculpa da dor de cabeça!
Sabia bem porque estava assim; porque quis! Não podia agora fugir com o rabo à seringa; tinha mais era que me aguentar e cumprir com o meu dever de mulher.
Ajudou o tinto que ele abriu; sacana sabe bem o efeito que dois copos exercem sobre mim, e o que três exercem sobre as minhas coxas. Como ele costuma dizer zanga-as uma com a outra e afasta-as cada uma para seu lado.
Deixei rolar, afinal uma mulher é uma mulher, certo?
Por me ter sentido assim para o choucha, depois de levantar a mesa, chegou-se por trás de mim e apoiou-me as mãos enormes e mornas nos meus ombros. O seu sorriso dizia-me o quanto sabia no que aquele toque resultava.
“Ai mãe…”
“Que queres tu agora à senhora, deixa-a lá estar sossegada, que ainda lhe dava uma coisa se visse bem o que te está para acontecer.”
“E o que é que me está para acontecer?”
“O mesmo que acontece a uma lagarta!” Acentuou a massagem e fez-me suspirar. “Tu aqui, agora és como uma lagarta, uma Lady; e as minhas mãos vão iniciar a tua metamorfose naquilo que te vais acabar de transformar no quarto, como numa linda e deslumbrante borboleta, na mais fascinante das putas.”
“Ai então tu queres-me puta, é isso?” Fiz-me de novas, exagerando na minha admiração, como se dourado dos meus canelos me tivessem efetivamente retardado a compreensão. “E para que é que tu quererias uma coisa dessas?”
“Para fazer cá umas coisas que me ocorreram!”
“Ohh! O quê?!”
“Umas coisas… não dão para explicar. Eu depois mostro-te.”
“Então, mas… e achas que uma puta é que é boa para fazer essas… coisas de que falas? Porquê uma puta? E uma puta como, fina?”
“Não! Fina, não; reles. Uma daquelas bem ordinárias capazes de tudo!”
“Que horror. E queres a tua mulherzinha assim?”
“Sim!”
“Então e depois? E se me acontecer o que acontece às borboletas? Elas não se remetamorfozeiam novamente em lagartas, pois não? E se eu nunca mais deixar de ser puta?”
“Deixas, deixas; quando saíres do quarto, voltas a ser uma Lady!”
“Ohh… que chatice.”
Rebentámos numa gargalhada incontrolável que o nosso olhar mútuo fez esmorecer. O Nando pegou-me mo pescoço e inclinou-se. Parou com a cara a centímetros da minha e fixou-me intensamente. A sua mão quente, que me agarrava forte a base da nuca, o lume do seu olhar e o calor do vinho, tudo se uniu para me derreter em desejo que senti aflorar na face e humedecer na intimidade.
E é engraçado como o corpo e principalmente a mente duma mulher é; talvez por estas e por outras é que a Rosa Mateus acredita e defende que somos nós o sexo forte; uma mulher aguenta tudo! E uma puta, em última análise, não é outra senão uma mulher com M grande. 
Por mais que passe um dia inteiro a perceber como um regimento de marujos regressados duma comissão de ano e meio em alto mar matam as saudades de mulher, arranja sempre forma de dar um sprint final se o marujo tímido e envergonhado lá mudar de ideias e afinal também quiser a sua lasca.  
Não seria eu agora que desgraçaria o género e me armasse em bonequinha com frenicoques e não me toques!
Englobei a sensação de maceramento e dorido que me acompanhara durante o resto do dia, e vi-a como ajuda a entrar no papel em que o meu marido me queria; afinal, puta que é puta, deve passar a vida inteira a sentir aquela sensação.
“Nando; amor! Sabes que há um ditado muito antigo, acho que é egipcio ou bretão, ou se calhar é azteca – que é tudo a mesma coisa – que diz que devemos ter cuidado com aquilo que desejamos; às vezes acontece!”
Levantara-me e acabei de falar já de pé, a olhá-lo nos olhos e mordi o lábio inferior marota, passei-lhe a mão ao de leve no seu triângulo dos prazeres, dando-lhe o tempo suficiente para acusar o toque e reagir-me na ponta dos dedos. Tenho a certeza de que perdeu ali no meio, um dos passos corretos na sequência inspira-expira-inspira-expira… até se engasgou! Deixei-o a ver se percebia ao certo o que se tinha acabado de passar ali, enquanto ficou a ver-me afastar a rebolar sensualmente o rabo da sua perdição.
Quando chegou ao quarto, depois de fazer a sua ronda habitual pela casa a verificar as portas da rua, eu já tinha posto o nosso CD a tocar baixinho. Há coisas que fartam e aborrecem, mas as nossas músicas são as nossas músicas. E o Purple Rain, por mais batido, cliché, velho ou o que lhe quiserem chamar, será sempre o nosso Purple Rain de sempre. Eu estava nua sobre a cama, tapada só com o lençol. Tinha uma perna esticada por baixo do lençol, e a outra, fletida, aparecia destapada; eu abanava-a dum lado para o outro explicitamente sugestiva da minha propensão a abri-la. Subiu para a cama e eu fi-lo parar com o pé, apoiado no seu peito.
Apanhei-o com uma surpresa que ele não disfarçou. Pensou que eu estivesse a brincar e tentou forçar-se, em vão pois só me fez ser ainda mais veemente na minha intenção:
“Diz lá então, querias uma puta não era?!”
“Sim!” A voz tremida não enganou. Ele gostara do que experimentara na nossa noite anterior, e vinha à procura de mais.
“Então prova-o!”
“Como?”
“Faz-me puta. A tua puta!”
“Como?!”
“olha que pergunta! É bem simples: o que é que uma puta faz durante o dia?”
“Fode.”
“E como é que fode?”
“Como uma louca, à bruta.”
“E era assim que me querias?”
“Ss…im!”
“Ss…im? O que é que é isso? Fala, como um homem!”
Ele parecia não me reconhecer. Caramba, até eu não me reconheci!
“SIM!”
“Assim sim! Então vê como uma puta que fodeu o dia todo está ao fim da noite!”
Ele puxou o lençol lentamente, e o seu deslizar pela minha pele ao descobrir-me as mamas, a barriga, e por último a minha perna esticada – que eu entretanto fui abrindo – obrigando a ponta do tecido acabar por me roçar entre as coxas e no meu clitóris já intumescido, fez-me arrepiar desde a nuca até à ponta dos dedos dos pés.
Esperei que ele caísse de boca, esfomeado, para lhe apoiar as minhas mãos bem abertas na sua cabeça, guiando-o e puxando-o leve mas determinadamente, e só depois fechei os olhos.
Perdi-me novamente num mundo como o que a Rosa Mateus descreve, com visões surreais como se do fundo dum mar onde por entre algas ondulantes vislumbrasse uma das suas passagens em que provava o mais divino dos prazeres: o devorar em absoluto abandono pela boca dum marido ensoberbado pelos cornos!
Tinha que aproveitar o estado “quero-lá-saber” em que ele estava para mandar todo o carvão que conseguisse para aquela fornalha!
“Gostavas, não gostavas? De me comer assim depois de eu ter estado com outro homem?”
Uma réstia de dignidade de macho embrutecido ainda tentou reagir, e eu acabei por afogá-lo numa nova vaga de cio em estado liquido que senti escorrer de mim diretamente para a sua boca.
“Gostavas. Eu sei que gostavas, não precisas de me responder doutra forma; eu já percebi.”
Presenteei-o vindo-me e contorcendo-me como uma cabra alfeira. Saber perfeitamente que era daquele momento que ele estava à espera para vir rentar o que o barrava de vir com todo o seu poder e pujança para me vergastar mental, e fisicamente devastar pelo desaforo, ainda acabou por me despoletar uma última viagem – mais rápida é certo – aos arredores do Olimpo.
Apanhou-me naquele momento em que tudo começa a parar de rodopiar, mas em que ainda estamos zonzas. Não reagi; não o conseguiria mesmo que o quisesse, quando ele se enterrou furiosamente em mim e me demoliu a intimidade em estocadas de deleite que, em crescendo, me levaram a acompanhá-lo num explosivo e memorável como os são sempre até ao próximo, orgasmo simultâneo!
Quando por fim nos separámos, e eu senti por fim aquela lancinante dor nos tendões das virilhas que uma mulher sente depois de bem montada – sinal derradeiro de que o foi efetivamente! – e me aninhei nos seus braços, lembrei-me daquele casal de personagens do Ribatejo Ardente. Quando a mulher assim se aninhou também e adormeceu a pensar como diria o que queria dizer ao marido.
À falta de mais coragem, disse-lhe baixinho.
“Eu amo-te. E é bom ser a tua puta.”
“Eu sei. E eu também te amo!”

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"A maior desgraça que pode acontecer a qualquer escrito que se publica, não é muitas pessoas dizerem mal, é ninguém dizer nada." Nicolas Boileau