sábado, 7 de junho de 2014

Sim, Mestre!

A noite cumpria por fim, o que prometera desde o cair. As primeiras gotas, tímidas, ganhavam confiança a cada uma que se vinha esparramar no para-brisas, e depressa a última velocidade das escovas mal davam conta do recado.
Com a cabeça ainda naquela sala de reuniões onde passara pela tortura de tentar ignorar a forma como o Luís a estudava enquanto a ouvia com os olhos a trespassar-lhe a mente, enquanto ela ia discutindo os pontos da ordem de trabalhos, a Filipa, que normalmente depositava o máximo cuidado na condução, nem sequer reparara que era o único carro na faixa da esquerda da Marginal.
O trânsito àquela hora, já há muito que acalmara no normal frenesim das sete e tal, mas ainda assim, era mais do que o normal para uma quarta às nove e dez da noite. Saiu em Carcavelos, e parecia que todos os carros que andavam na rua naquela noite era para lá que iam.  S. Domingos de Rana pareceu-lhe arrepiante sem vivalma, e a chuva cada vez mais intensa começou a deixá-la de sobreaviso, puxou o banco um trinco ou dois para a frente e ajustou o cinto, como se um pressentimento a tivesse alertado para o que estaria para acontecer.
Olhou para a mala no banco do pendura; ainda levou lá a mão para telefonar ao marido, mas decidiu que não o faria; se nem numa noite daquelas ele era capaz de lhe ligar para perguntar se ela estava bem, que se fodesse mais às suas constantes e prioritárias reuniões e jantares de negócios e trinta mil outras desculpas para raramente chegar a casa antes da meia noite ou uma da manhã.
Não fosse a merda da hipoteca da casa que ele insistira em comprar, e ela sabia bem o que faria. Como é que se deixara cair na esparrela de avançar com todo aquele dinheiro que a avó lhe deixara, é que ainda estava para perceber.
Porque não ficava bem a um promissor gestor de conta numa das maiores corretoras da praça! Maniento de merda! Com todos aqueles planos bem definidos em seguir os degraus que o padrinho lhe ia deixando alcatifados e que se ele fizesse tudo o que lhe mandavam como devia ser, o levariam em meia dúzia de anos à cobiçada delegação da Standard & Poor’s, levou-a a avançar ela com a entrada da casa, e que, quando subisse ele na pirâmide dos tubarões, repunha-o!
O problema é que o poder subira-lhe à cabeça, e via-se já como sendo ele o presidente do FMI ou coisa parecida, e o dinheiro, conforme entrava mais, encarregava-se ele de do fazer sair, naquilo que, como ele dizia, era uma projeção do sucesso, que por sua vez atraia mais sucesso.
Agarrasse ele no sucesso todo que ia obtendo e o enfiasse no cú, que era onde ele tanto gostava de apanhar em longas sessões de BDSM, algemado e de coleira, como um cachorro desobediente. Desenvolvera aquele fetishe quando se apercebera que era coisa in do pessoal das altas esferas.
Era in, era… cambada de frustrados que passam o dia a foder desgraçados e à noite procuram dominatrixes e putas da alta roda que os façam sentir castigados pelo mal comportados que são.
Da primeira vez que ele lho sugeriu, estavam a ver um filme qualquer em que um magnata qualquer estava de gatas todo nu com um cinto donde pendia uma cauda do género de cauda de cavalo, e ela o vergastava com um pingalim enquanto o xingava de tudo quanto era nome feio, e o obrigava a lamber-lhe as botas de couro negro reluzente, que lhe iam até meio das coxas roliças de cavalona. O ar de cãozinho dele, quando a olhou, nesse dia ficar-lhe-ia como uma das mais patéticas recordações dele.
Ela nem quis acreditar que ele achara piada àquilo, e falaram sobre isso. Deixou-se embarcar no papel, embora por dentro achasse tudo aquilo tão ridículo, que teve que fazer um esforço para conter o riso. Foi-lhe sincera, não achava piada nenhuma; quando muito, a ser ela sujeita às sevícias – desde que moderadas – mas não se conseguia ver no papel dominante. Simplesmente era feminina demais, e achava que o perfil para aquilo seria sempre o de uma mulher com alguma tendência para o lesbianismo, mas como não era entendida na matéria, nem se queria preocupar muito com o assunto, pois se o fizesse depressa se aperceberia que se estavam a tornar água e azeite.
Com os meses e com a recente promoção, viera a cada vez mais tardia chegada, as esquivas trocas de roupa, ou às escuras ou na casa de banho, as nítidas marcas de chibatadas que ela fingiu não reparar; as que pareceram queimaduras de cera no peito duma outra vez, que até pomada teve que andar a pôr às escondidas – como se depois de adormecer como uma pedra, ela não lhe pudesse abrir o pijama sem que ele se desse conta.
Jã não tinham rigorosamente nada há três meses. Nada!
O casamento já pouco mais era que uma parceria comercial em que o único objetivo era perderem o mínimo possível do investimento inicial, para assim que pudessem encerrarem a atividade e extinguirem a empresa.
Com a cabeça tão imersa em tudo aquilo, claro que tinha que dar merda!
Ao fundo da reta do aeródromo de Cascais, um lençol de água que não concordou com os termos com que o Smart negociou a trajetória, e foi por um triz que não deu uma série de cambalhotas pelo descampado a fora; limitou-se a depois dum violento safanão quando embateu numa vala mais funda, ficar meio inclinado para a direta.
Bonito serviço!
Sabendo de antemão que de nada lhe serviria, pôs o seletor no R e ouviu a lama do pneu a salpicar-lhe a parte de baixo do carrito. Tinha ficado com uma roda no ar. Afinal não era bonito, era lindo; lindo serviço!
Fez um breve cálculo, devia ter entrado pela fazenda adentro uns cinquenta o mais metros. Apanhou a mala que espantalhara todas as cento e oitenta e quatro coisas diferentes que uma mulher normal trás sempre dentro da mala, e tentou localizar o bendito iphone no meio da barafunda que forrava o tapete do pendura. Apanhou-o e assustou-se quando ele lhe tremeu na mão.
Sentiu-se no meio dum filme do Woody Alen, tão surreal foi aquele momento. Feita parva, ficou a olhar para o visor; era ela que estava a ligar!
Olhou em volta, à procura de alguma coisa que a assegurasse de que não tinha morrido ou coisa parecida, e aquilo fosse uma espécie de experiência extracorpórea adaptada às novas tecnologias, onde a sua consciência lhe estivesse para dar nas orelhas pela estupidez de ter entrado naquela curva àquela velocidade e agora tinha morrido!
Sussurrou quando atendeu.
“Está lá? Está lá alguém? Dr.ª Filipa?”
Sacudiu a cabeça quando ouviu a sua voz; soava-lhe estranha. Não era mesmo nada parecida com a voz que ela se ouvia quando falava, mas isso era normal, até custa a acreditar que é a nossa voz quando a ouvimos gravada, mas aquela era realmente muito estranha. Para já, era uma voz forte, de homem, e soava estranhamente familiar…
“Dr. Luís??”
“Estou. Dr.ª Filipa? Sim, sou eu, o Luís Mestre, parece-me que trocámos os telefones…”
Não conseguiu prender um risinho nervoso, que ele, do outro lado não percebeu. Antes que enlameasse mais o seu já de rastos amor-próprio do que os guarda-lamas do carro, apressou-se a falar o mais coerentemente para lhe explicar o que acontecera e porque soltara aquele risinho de teenager esgrouviada.
“Peço desculpa Dr. Luís, acabei de ter um acidente, e…”
“Como? Um acidente? Mas… a Dr.ª está bem, não está ferida?”
“Não Dr., felizmente estou bem obrigada. Já do meu orgulho é que não posso dizer o mesmo; despistei-me e saí da estrada. Só que estou no meio duma fazenda no meio de nenhures e não se vê vivalma nem passa carro nenhum. Ia a pegar no telemóvel no exato instante que o Dr. ligou e apanhei um susto que nem queira saber…”
“Bem, que história! Então e agora? Quer que avise alguém? Que chame o pronto-socorro? Em que posso ajudá-la? Onde está?”
“Estou ao fundo da reta do aeródromo de Cascais. Não sei se sabe onde é…”
“Quer que eu avise alguém?”
A forma clara como ele fez a pergunta, fê-la aperceber de que ignorara a primeira vez que ele perguntou. Sem acreditar no que a boca verbalizou, e menos ainda no tom seco em que o fez, respondeu.
“Não.”
“Eu vou para aí. Até já.”
Segundos depois viu o visor do telemóvel acender-se com a aplicação que o localizava. Ele guiar-se-ia pelo sinal de GPS e vinha a caminho.
Para quê?
Imaginou-o ao volante. Viu-lhe os olhos atentos e as mãos fortes a agarrar seguramente o volante, imaginou o seu carro um daqueles carrões grandes e potentes, dos que passam a voar baixinho na autoestrada e faziam o Smartzinho abanar com a deslocação de ar que provocavam. E sentiu o pensamento travar a fundo com um chiar agudo quando passou à imagem das mãos dele. Não eram mãos de advogado; eram de atleta, eram enormes e os dedos eram esguios, porém fortes.
Fechou os olhos, para melhor os ver. Ocorrera-lhe, durante a reunião de que eram dedos de pianista, e agora ali, na completa escuridão – desligara o motor e as luzes, não fosse passar alguém conhecido e inviabilizar aquele tão lesto e empenhado salvamento – levou uma mão ao pescoço e fez-se uma massagem a si própria imaginando como o toque da dele a faria tremer até ao centro da sua alma. Experimentou dizer o nome dele baixinho, para ver como lhe soava em modo intimista e sem o dê érre a apitar à frente
“Luís… Luís Mestre…”
Sentia o paladar daquelas palavras na língua, e ficou a saboreá-las até que se lembrou do estado deplorável em que se lhe apresentaria quando chegasse ao ultramar de lama alcatrão! Lembrou-se que tinha uns ténis na bagageira – pronto, no porta-luvas traseiro – do Smart. Esticou-se e chegou a um, e estava a tentar pescar o outro, usando a caixa dos óculos como extensão do braço quando viu uns faróis ao fundo da reta. Lá o conseguiu arrastar o necessário para o conseguir pegar precariamente entre o indicador e o médio. Trouxe-o para junto do irmão gémeo, e calçou-os.
Entre dois quilos de lama agarrada a cada um dos Prada, e o que lhe restava de mínima compostura vir a arruinar-se quando lhe aparecesse com uns ténis velhos rosa choque que conjugavam com o saia-casaco escuro e camisa branca como uma bola de espelhos sobre um caixão, que se lixasse a compostura!
E sempre era ele que lá vinha. Parou na berma, iluminando-lhe o caminho com os faróis apontados, e ficou a observá-la naquele equilibrismo delicado no trilho estreito das rodas que o carro fizera ao alisar as levas e os torrões de terra lavrada.
Felizmente parara de chover, o que lhe preservava um mínimo de apresentação, ou senão os seus caracóis pareceriam um penteado afro à anos setenta!
Ele saíra do carro e aguardava-a. Recebeu-lhe a pasta e o saco do computador; fez umas contas de cabeça ao tempo que passaria de cu para o ar a limpar aquele carro de mão de lama que ela deixaria no tapete se entrasse assim para o carro, mas não disse nada. Abriu a porta de trás do lado dela e pôs lá as tralhas dela, abriu-lhe a porta e nem quis ver o desastre que se seguiria. Deu a volta ao carro e entrou.
Foi a vez dele se perguntar o que raio se tinha passado ali, quando em vez do lamaçal, ela tinha aqueles sapatos pretos de salto alto que o lhe vira quando ela entrara na sala de reuniões, quatro horas antes, e que lhe desenhavam os gémeos e aqueles dois centímetros de coxa que a saia deixava adivinhar, como se torneadas no mais sublime dos engenhos, às mãos do mais exímio torneiro!
Nunca se viria a aperceber que ela, conforme se sentara no carro com as pernas de fora descalçara os ténis lá fora e enfiara os Prada que tinha na mala.
“Dr. Luís, que maçada. Não sei como agradecer…”
“Eu sei! Pode começar por deixar de me tratar por doutor. Trate-me, que eu gosto muito do meu nome, por Mestre!”
Ficou a olhar para a cara dela aparvalhada, que à espera de o ouvir dizer Luís, já se preparava para retribuir, pedindo-lhe para a tratar por Filipa. Contudo ele não manteve a seriedade por mais tempo.
“Desculpe-me, mas ter um nome destes e não aproveitar esta piada seria um desperdício, não acha?”
“Eu sei lá, depois do que tem sido este fim de dia, eu já nem sei o que pensar nem o que achar nem nada. Mas pronto, apanhou-me!” Olhou para ele por cima dos óculos, com aquele ar de executiva séria que dava com os homens todos em malucos e acrescentou. “E como me salvou, acho que isso me faz, de alguma forma sua escrava, não?”
“De alguma forma, sim!” sacana, não desarmou. “E vai começar por ter que me acompanhar a jantar; Sushi, gosta, não gosta?”
“Adoro. Onde?”
“No Château Maître!”
“Ahhh… pois claro, pois então!”
Ligou para não sei onde e deixou-me pasmada!
No meio daquela algaraviada que identificou, pelo Konbanwa ao início e pelo Arigatô final, como japonês. Na escala de primeira impressão, onde no um se liga para a telepizza, onde ficará o encomendar sushi? Seguramente no dez! pois… e se o telefonema for todo feito em japonês? Há de ser coisa para rebentar com qualquer escala!
Levou a mão ao bolso do casaco, tirou o telemóvel e estendeu-lho. Ela pegou-o e devolveu o dele.
Nos vinte minutos que demoraram até casa dele, um apartamento que devia ser preciso um mapa para não se perderem lá dentro, bem no centro da Lapa, ele ficou a saber o pouco que precisava dela, e ela o nada que queria saber acerca dele. Já para não falar que, embora mal, era casada, havia a questão ética da complicada negociação em que representavam ele um gigante da farmacêutica e ela um importador que tinha saído lesado com uma remessa que apresentava um defeito no embalamento.
Em disputa estava um acordo em que um não queria pagar e o outro não queria deixar de receber, e o montante era qualquer coisa que rondava um milhão e meio de Euros.
Ela saíra da reunião com a nítida sensação de estar por cima em termos de posição negocial, mas agora, os papéis tinham-se invertido drasticamente.
Ele era casado. A mulher era japonesa, um quadro superior dum dos maiores fabricantes automóveis nipónicos, e passava uma boa parte do ano no Japão, e o apartamento era ele próprio um pedaço do país do sol nascente. Sem cerimónias, o Luís informou-a de que podia usar a casa de banho do quarto de hóspedes. 
Despiu-se e entrou no duche. Parecia agir como se debaixo de alguma hipnose, mas não estava. Limitava-se a deixar-se viver momento após momento. nem se deu ao trabalho de trancar a porta da casa de banho, fechou os olhos e imaginou o que faria se ele ali entrasse: nada, não faria rigorosamente nada; se ele ali entrasse seria porque queria vê-la, ou o que quisesse para além disso. E ela deixá-lo-ia. Ela queria sentir o poder da subjugação. 
Sobre a cama estava um quimono, e nada mais! Ele nada dissera que fosse para ela vestir, mas só podia. Tomou um duche rápido, secou o cabelo meio à pressa e ficou com um ar tremendamente sexy.
O toque do material sobre a sua pele deixou-a nervosamente sensível. Sabia que a roupa devia ser da mulher dele, mas uma vez que o mais que certo é que acabaria por usar o que iria usar do marido, usar o vestido era simplesmente irrisório!
Olhou-se ao espelho e sentiu-se mais feminina do que alguma vez se sentira fosse com que lingerie fosse!
Ia a sair do quarto quando ouviu vozes. Entrou na sala e deparou-se com dois empregados vestidos a rigor, japoneses. A mesa de jantar desaparecera, e no seu lugar estava uma baixinha e estreita com umas almofadas de cada lado.
O lume crepitava na lareira, e ele instruiu qualquer coisa aos empregados em japonês, que se despediram reverentemente como pelos vistos era mesmo habitual, e não uma coisa mais exacerbada nos filmes.
Estavam enfim sós.
A ocupar a mesa toda, arrumadinhos em filas milimetricamente alinhadas, todas aquelas formas de sushi e sashimi e uma garrafa de forma bizarra que só podia ser saquê.
A Filipa esperava que ele também estivesse de quimono, mas não. Estava como o tinha visto, alargara a gravata, arregaçara as mangas da camisa e simplesmente tirara os sapatos.
Jantaram lentamente, conversaram de tudo menos de trabalho, e de casamentos. Tudo isso pertencia ao mundo e eles tinham saído dele, por algum tempo; tempo que seria deles e só deles. Todos queles sabores exóticos e controversos ao paladar, mas que no final deixam aquela saudade que só quem aprecia verdadeiramente entende foram delicadamente retidos. Já passava das onze quando ele se levantou, rodou a mesa e ajudou-a a levantar.
Sem palavras, ele guiou-a ao quarto. Duas molduras deitadas impediam que os olhos da mulher vissem de que forma fosse, quando ele se chegou por trás dela e lhe prendeu o cabelo para lhe descobrir aquele ponto, entre a nuca e a orelha, que quase o tinha impulsionado no corredor do escritório a agarrá-la, para lá a beijar.
Ela esperava que ela a despisse, mas ouviu o som de roupa a roçar noutra, percebeu o que era quando ele lhe aproximou a gravata da cara e a vendou.
Não sabia muito acerca de gueixas, mas pelo pouco que sabia, seria o que a elas mais associava: a total e completa submissão.
O Mestre abriu-lhe o quimono, e ela sentia-se ainda mais exposta, do que se estivesse completamente despida. Sentiu-lhe a mão subir-lhe daquela linha onde começam os pelos púbicos, lentamente sentindo-lhe a forma ligeiramente arredondada – mas terrivelmente sedutora – da barriga dela. Quanto ele não lha quisera conhecer com as mãos, tão perfeitamente encaixada na sua saia de executiva que lhe parecia a das fardas de gala das soldados Femininas, durante as horas que ela o tinha cilindrado!
Agora conhecia-a por fim! E os peitos dela… pareciam mangas a rebentar de maduras! Grandes, muito maiores do que à partida se suporia pela delicada compleição dela, e principalmente pela sobriedade da roupa com que a vira na reunião, mas ele, habituado ao que é um corpo de mulher, não se surpreendeu. Tocou-lhes ao de leve e ela estremeceu.
A Filipa sentiu-lhe os dedos roçarem-lhe pescoço acima e acompanharem a curva suave do seu queixo. Sentiu-o força-lo ligeiramente de modo a que ela abrisse a boca.
Ela mantinha-se de braços esticados ao longo do corpo, mas aí não resistiu a querer tocá-lo; ele ficou fulo.
“Quieta mulher!” Sentiu-se puxada pela nuca ao encontro da cara dele. O arrepio que lhe começava a passar do berro prévio, foi reavivado multiplicado por dez quando lhe sentiu o roçar da barba de três dias impecavelmente aparada.
“Responde-me quando eu falo contigo!”
“Sim.”
“Sim?! Sim?! Com quem pensas que estás a falar? Responde como deve ser; agora! JÁ”
“Sim… M…Mestre!”
O sabor que o nome lhe deixara na língua, quando à espera dele no carro, fantasiara com algo que já tinha a certeza, acabaria por acontecer, não tinha nada a ver com o que agora sentira ao dizê-lo, mas ao mesmo tempo, era o que de alguma forma melhor colava com ele. Era como se fosse o mesmo sabor mas com um toque de wasabi, e o resultado era surpreendentemente similar, pelo exotismo, que aqulele provoca nas papilas!
“Quero ouvir-te dizê-lo com convicção; não a gaguejar!!!”
“Sim, Mestre!”
Estremeceu toda por dentro. Nunca se sentira tão vulnerável em toda a sua vida. Ali estava, despida à frente dum desconhecido, ninguém sabia onde é que ela estava, e reafirmava-lhe a completa e incondicional submissão. Sentiu os peitos enrijarem ainda mais e os mamilos quase doíam de tão enrijados pela tesão que de repente sentiu humedecer num pingo escorrido para a parte interior da coxa esquerda. Uniu as coxas de modo a esfregá-las uma na outra; teve a esperança de o fazer sem que o mestre reparasse. Deu-se mal; não conseguiu, e ele agarrou-lhe a mama direita com força, deixando-a descobrir a indescritível força dos seus dedos longos.
A outra mão pegou-lhe então na cara, e com o polegar, correu-lhe os lábios a toda a volta. Insinuando-se entre eles, fê-la entender que a queria de boca entreaberta, e deslizou o polegar entre os dentes até que o sentiu tocar-lhe na língua. Fê-lo entrar e sair da boca dela até que ela arriscou a unir os lábios à volta e o começou a chupar. Sentia-lhe a respiração no pescoço, e o corpo que ele irradiava do corpo, sentia-o na pele.
A mão que lhe esborrachava a mama largou-a e sem aviso plantou-se impudica sobre a sua pelagem criteriosamente aparada; cobria-a toda e a ponta dos dedos deslizaram sem resistência entre os lábios exteriores e tocavam-na sensitivamente nos pequenos. Sentia-a pronta, deserta por mais. Aquilo sim, era ter poder sobre uma mulher. Fazê-la entregar-se completamente aos seus caprichos. E tão excitada que não só deixava fazer tudo como implorava que fizesse ainda mais. Ainda que não o fizesse com palavras da boca de cima, a de baixo, na língua universal confessava-se pronta a servir para o que milhões de anos de evolução tinham preparado o corpo duma mulher.
O peito dela subia e descia cada vez mais ofegante. Cada vez mais ávida de estímulos, viessem eles de onde viessem!
Tinha contudo, de se contentar com o que ele lhe concedia.
Pelo lado dele, estava quilhada; não seria cedo que Luís a apaziguaria. Nunca vira uma mulher como ela, com aquele fogo contido no olhar, com aquela necessidade de submissão que se lhe via nas subtis revelações inconscientes durante toda a tarde. Por detrás daquela impenetrável negociadora, ele vira a fêmea que, oprimida, gritava a revolta de mais não aguentar.
Acabara por resultar ainda melhor do que alguma vez planeara ao trocar o iPhone com o dela. Ele planeava forçar um encontro pouco depois de ela sair do edifício, mas aquele pancona do Guimarães tinha que vir com aquelas paneleirices da festa surpresa à D. Susana, e precisava porque precisava mesmo do ficheiro que ele tinha onde? Pois; no iPhone!
Era cedo demais, arrasaria toda e qualquer hipótese de fazer fosse o que fosse no sentido de a convencer a estarem a sós. Voara ao escritório, ligara o computador e abrira a nuvem para descarregar o maldito Excel.
O plano inicial era ligar-lhe uns quinze minutos depois de ela ter saído da reunião, e quando o conseguiu, três quartos de hora depois, receou que ela já tivesse chegado a casa, fosse lá onde fosse. Só sabia que ela morava para a zona do Estoril, mas tudo acabara por correr maravilhosamente bem: ali a tinha, à sua completa mercê.
“Ajoelha-te!”
Ela obedeceu prontamente.
“Mantém as mãos atrás das costas”, agarrou-lhe nos cabelos com força para lhe inclinar a cabeça de lado, para que o ouvisse bem. “E nem penses mexê-las!”
“Sim Mestre.”
“Linda menina.”
Chegou-se a ela, por trás, com que ela o ouvisse a abrir o cinto. Tirou-o, não podia esperar por lhe fazer o derradeiro teste: dobrou-o ao meio, e enfolou-o de modo a, quando afastou os braços com força ele estalou violentamente com um baque inconfundível. Ela estremeceu ao som. Mas não se mexeu.
Repetiu, agora mais perto dela, e nada. Para além duma cada vez mais ansiedade patente na respiração, a Filipa nada fez para fugir, ou para se desvendar, ou para que ele parasse.
Assim sim! Ela vivia aquilo simetricamente à forma como ele o vivia.
E a sua boca, ela enlouquecia-o com aquela boca de sonho. Fizera-o sentir mais no polegar do que toda e qualquer outra mulher alguma vez conseguira a mamá-lo.
Enfiou-lhe o indicador, e depois o médio pela boca dentro, à bruta! Queria ver até onde é que ela ia, e ela lutou contra ela mesma de forma a não o desagradar. Ela era sua escrava; se ele lhe queria enfiar os dedos na boca ela dar-lhe-ia a boca toda para ele explorar.
Esperava só que, depois de a explorar como bem entendesse, lhe concedesse um pouco de atenção; ele sabia como aquilo a estava a excitar. E se se portasse bem, talvez depois a deixasse libertar aquela energia toda que acumulava sob a forma da mais explosiva fome.

(continua)

1 comentário:

  1. Fantastico... ja estou ansioso pela continuação
    Beijo
    Ricardo

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"A maior desgraça que pode acontecer a qualquer escrito que se publica, não é muitas pessoas dizerem mal, é ninguém dizer nada." Nicolas Boileau