sábado, 7 de junho de 2014

Sim Mestre! (2ª Parte)

A Filipa sentia enfim a sua verdadeira essência vir ao de cima, sentia-a a romper todas as capas e carapaças que os anos passados como estudante interna num colégio de freiras, a insistente pressão da mãe e da avó para se tornar uma menina bem comportada, haviam criado; todas as anulações que se tinha imposto quando sentia uma pontinha de desejo fora daquilo a que uma senhora devia sucumbir.
E rompia com toda a fúria duma fera enjaulada que por fim apanhava a porta destrancada; queria mais, queria tudo, queria sentir o que quer que levasse as putas a fazerem o que fazem. Queria sentir o que quer que a fizesse sentir, ser um pedaço de carne às mãos e mente perversamente obscenas dum homem que a usasse para o prazer, e rezou para que ele não lhe fizesse o pior que podia fazer – retrair-se de alguma forma!
Para isso já lhe bastava o banana do marido, que desde que tinham começado a sair lhe pedia licença para a beijar, pois não lhe queria estragar a maquilhagem, ou estragar o batom que insistia que ela mantivesse permanentemente impecável. Queque com a mania de que só porque era de Manique, era gente de bem de Cascais!
Os estalos do cinto tinham-na feito vibrar, receou que ele a açoitasse.
Não o fez, e isso frustrou-a. Pelos vistos não se estava a portar mal o suficiente. Parou de lhe chupar os dedos.
Foi mais longe, puxou as mangas do quimono de modo a fazê-lo descobrir-lhe os ombros, deixando-o prestes a cair e a deixá-la com o peito todo a nu. O Mestre; o seu mestre, engoliu em seco com aquela assunção dela à sua condição.
Ela estava verdadeiramente a gostar daquele jogo e estava nele, não como um jogo como até aí todas as mulheres com quem ele tinha tido alguma coisa do género tinham estado, mas como uma forma de se entregar plena.
A Filipa sentia-lhe os olhos a salivar sobre as mamas, ainda sentia nelas o aperto desmedido da sua mão, e subitamente sentiu a falta que os dedos dele lhe faziam a encher-lhe a boca. Lambeu os lábios como um gato faz quando atento vê o dono a preparar peixe cru.
“Mestre… faz-me tua.”
O coração batia-lhe como um martelo pilão, e ameaçava sair-lhe boca fora! Que será que aquilo lhe provocaria? E porque é que ele não reagia?
Mestre não reagia porque viu que ela queria que ele reagisse; simples! Sem o mínimo som, recuou um passo e admirou-a: ela era linda! Era a definição de perfeição feminina, e ali estava ela de joelhos, boca sensualmente entreaberta, nitidamente à espera de nela receber alguma coisa, e o seu olhar chegava a atropelar-se na constante subida e descida pelo seu corpo. Tentou estabelecer uma ordem de atuação, e lutou no dilema de não saber por onde começar.
Chegou-se novamente a ela, para a deixar ouvir o quase impercetível desapertar do botão das calças, e ao lento correr do fecho ela reagiu fechando a boca para a humedecer do que a antecipação lha secara. Viu-a contrair o pescoço quando foi ele a engolir em seco; foi decisivo para ele fazer o que fez. Deixou as calças caírem, de modo a que lhe tocassem nas pernas dela; saiu delas, e com um pontapé tirou-as do caminho.
Rapidamente despiu os boxers e o seu pénis saudou a libertação ostentando orgulhosamente o seu desafio à gravidade. Tocou-lhe levemente a bochecha com um dedo.
A Filipa percebeu perfeitamente o que sempre ouvira: na falta de um dos sentidos, todos os outros se aguçam para compensar a lacuna sensorial. Embora vendada, ela “viu-o” despir as calças e depois a roupa interior. O cheiro de macho dele sobressaia ao Armani Code que lhe tinha desafiado a concentração desde que ele a cumprimentara ao recebê-la para a reunião, e as feromonas entraram-lhe violentamente pelo cérebro, agregadas àquele odor almíscar inconfundível de homem excitado, e refletiram-se dois segundos depois na nova enxurrada que sentiu nascer-lhe entre os lábios agora floridos pela profunda excitação que lhos inchava de sangue e a deixava ansiosamente expectante.
Queria que ele lhe fizesse alguma coisa. Esperava que ele a tocasse sequer, e pressentiu o toque na cara do que se convenceu que fosse o seu pénis. Quando ele lho roçou, estremeceu novamente; ele esfregava-lhe obscena e deliciosamente o caralho teso na cara. Gostou; gostou muito. Quis mais e chegou-lhe a cara para o melhor sentir.
Ele sorriu quando a viu procurar acentuar o toque na cara, nem acreditou quando aquela ríspida e nada permeável a que tipo de confiança fosse advogada, dona dum sex appeal de fazer tombar o mais forte Golias com um simples olhar lançado detrás daqueles óculos enormes de massa preta, ali estava agora de joelhos a suplicar por lhe sentir o que podia muito bem ser o seu caralho teso a esfregar-se-lhe na cara.
Pôs-se mais a jeito, com uma perna de cada lado das dela, e aproximou-lho da boca enquanto lhe pegou na face.
Ela deixou-se guiar pelo que afinal era a sua mão. A cara, que sentia já a arder de tão corada, que o sangue a ferver pela excitação a deixava, pareceu-lhe pegar fogo quando ele lhe pegou terna mas seguramente. E quando sentiu a outra na parte de trás da cabeça, viu-se como algumas vezes não pudera evitar de ver em filmes cenas daquelas, em que o homem pegava na cabeça da mulher e se serviam das bocas delas sem dó nem pejo para se consolarem à bruta.
Esperou.
Não esperou muito, ele segurou-lhe na cabeça e tocou-a nos lábios. Recuou um pouco para que ela os lambesse, e voltou logo de seguida a dar-lhe o que ela pedia tanto como um bezerro esfomeado pede a teta da mãe. Enfiou-lho lentamente, dando-lhe o tempo suficiente para o ir deixando acomodar-se. Não acreditou como a língua dela o fez sentir ainda maior, mais rijo e mais curvado para o céu-da-boca gulosa e sedenta.
A Filipa sentiu o toque da pele distendida da glande nos lábios e o desejo causou-lhe um instintivo lamber para lhe sentir aquele sabor salgado que o aroma anunciava, quando o sentiu novamente não lhe deu sequer a hipótese de voltar a fugir; qui-lo mais e mais e mais ainda dentro da sua boca.
Lembrou-se de todas as vezes que o marido lhe pedira para o fazer e do que sentira de todas elas; uma espécie de asco, que agora se traduzia num incontrolável desejo de saber afinal, o que é que aquilo tinha de tão excitante. Era qualquer coisa que advinha dessa repulsa, que tornava tão proibido, tão contra o que toda a vida antes de começar a namorar lhe tinha sido incutido.
Ele gozava com ela, com o seu pudor! Chamava-lhe bonequinha doce…
Bonequinha doce; quis que ele a visse agora, de joelhos entre as pernas dum macho cujo simples sussurrar do nome a fazia tremer da cabeça aos pés enquanto lhe fazia a mamada do milénio. As mãos dele, por mais, que a agarrassem com força, na realidade seguiam-lhe cada movimento que ela fazia mais acertadamente que a mais rodada puta do beco mais chunga do Cais do Sodré.
O Luís estava no paraíso. O toque, a cadência, a humidade e a sucção – nem ele próprio alguma vez tinha conseguido aquela perfeição de estímulos!
O aperto, aquele delicioso aperto – nem demasiadamente forçado, nem comedidamente frouxo – fazia-o ter a consciência de que todos os planos que fizera de, só a título de teste, lhe estimular os sentidos e ver a reação dela tinham sido literalmente eclipsados pela necessidade, a cada chupadela – sentida por ele e transmitida por ela – de se deixar esvair de toda a esporra que tântricamente acumulava há já quase três semanas.
Na falta da sua mulher, que estava há já quatro meses no Japão, muito por causa do crescente desinteresse de parte a parte, pois facilmente qualquer um deles se meteriam num avião se a vontade de estarem juntos fosse efetivamente premente, e na falta de qualquer outra que lhe fizesse sentir que valaria a pena abrir a braguilha, era sozinho que se ia satisfazendo na sua necessidade masculina. E de há tempos àquela parte, vinha seguindo os ensinamentos Shiva e Shakti, praticando o prolongar do prazer, pois dessa forma transformava os constantes orgasmos num glorioso e estarrecedor quando finalmente sentia que o corpo não o conseguia prolongar mais.
Ela sentiu-o cada vez mais rijo, e a sua respiração, cada vez mais pesada; sabia o que aquilo queria dizer. Há muito deixara de lhe sentir o saco a bater no queixo de cada vez que balouçava naquele vaivém lento e compassado – cada vez mais acelerado – e isso era um dos sinais de que o fim estava próximo; os testículos estavam já retraídos nas suas cavidades, onde se recolhiam quando a ejaculação era verdadeiramente potente. Nunca sentira nenhuma na boca; queria que ele lhe desse a conhecer, mas receava a sua reação – temia que na hora se engasgasse, ou que não conseguisse evitar algum acto reflexo que lhe pudesse provocar algum vómito.
Ele tirou-lho da boca para a deixar responder.
“Assim vou acabar por me vir.”
A resposta dela, afinal, não requeria aquela interrupção; antes pelo contrário: ela procurou-o às cegas para que ele cumprisse o que – estava dito, dito estava – ele prometera!
Ele voltou a enfiar-se todo novamente, e desta vez até lhe encostar os pintelhos ao nariz, o que a fez soltar um suspiro morno que por pouco não o fez acabar com tudo naquele instante.
A Filipa admirou-se com o toque diferente que sentiu atrás da cabeça; percebeu o que era quando sentiu a claridade suave do quarto anunciar-se nas pálpebras, que fechadas a sentiram bem mais forte do que era realmente. Ele esperou que ela abrisse os olhos, e só depois retomou aquele ondular da cintura perfeitamente sincronizado no compasso dos movimentos da cabeça dela.
Ela olhava-a dentro da mais recetiva submissão que ela lhe assegurava com o seu olhar esverdeado quando se lhe deu.
“Toma-me.”
Ela sentiu o primeiro jato e depois outro baterem-lhe na bochecha; ele tivera o bom senso de se alinhar meio de lado. Encher-lhe-ia na mesma a boca toda de esporra sem a fazer passar pelo tormento de se engasgar, e conforme foram perdendo a pujança e a abundância, deixou-a então sentir o que era um macho esporrar-se contra o céu-da-boca.
Ela nem uma gota deixou escapar, semicerrara os olhos aos primeiros impactos, mas depois disso saboreara-lhe cada detalhe do seu néctar espesso e escaldante de macho.
Quando deixou de lhe sentir o sabor por fim, fez para o deixar escapar do que já se tornava numa sensação torturante para ele. Sugara-lhe até a firmeza, e quando o soltou pendia meio arqueado – símbolo derradeiro da total satisfação.
O olhar dele disse-lhe o que ele não precisou de falar: ela portara-se exemplarmente, e o mestre estava simplesmente sem palavras.

(continua)

1 comentário:

"A maior desgraça que pode acontecer a qualquer escrito que se publica, não é muitas pessoas dizerem mal, é ninguém dizer nada." Nicolas Boileau