A noite cumpria por fim, o que prometera desde o
cair. As primeiras gotas, tímidas, ganhavam confiança a cada uma que se vinha
esparramar no para-brisas, e depressa a última velocidade das escovas mal davam
conta do recado.
Com a cabeça ainda naquela sala de reuniões onde
passara pela tortura de tentar ignorar a forma como o Luís a estudava enquanto
a ouvia com os olhos a trespassar-lhe a mente, enquanto ela ia discutindo os
pontos da ordem de trabalhos, a Filipa, que normalmente depositava o máximo
cuidado na condução, nem sequer reparara que era o único carro na faixa da
esquerda da Marginal.
O trânsito àquela hora, já há muito que acalmara no
normal frenesim das sete e tal, mas ainda assim, era mais do que o normal para
uma quarta às nove e dez da noite. Saiu em Carcavelos, e parecia que todos os
carros que andavam na rua naquela noite era para lá que iam. S. Domingos de Rana pareceu-lhe arrepiante sem
vivalma, e a chuva cada vez mais intensa começou a deixá-la de sobreaviso,
puxou o banco um trinco ou dois para a frente e ajustou o cinto, como se um
pressentimento a tivesse alertado para o que estaria para acontecer.
Olhou para a mala no banco do pendura; ainda levou
lá a mão para telefonar ao marido, mas decidiu que não o faria; se nem numa
noite daquelas ele era capaz de lhe ligar para perguntar se ela estava bem, que
se fodesse mais às suas constantes e prioritárias reuniões e jantares de
negócios e trinta mil outras desculpas para raramente chegar a casa antes da
meia noite ou uma da manhã.
Não fosse a merda da hipoteca da casa que ele
insistira em comprar, e ela sabia bem o que faria. Como é que se deixara cair
na esparrela de avançar com todo aquele dinheiro que a avó lhe deixara, é que
ainda estava para perceber.
Porque não ficava bem a um promissor gestor de conta
numa das maiores corretoras da praça! Maniento de merda! Com todos aqueles
planos bem definidos em seguir os degraus que o padrinho lhe ia deixando
alcatifados e que se ele fizesse tudo o que lhe mandavam como devia ser, o
levariam em meia dúzia de anos à cobiçada delegação da Standard & Poor’s,
levou-a a avançar ela com a entrada da casa, e que, quando subisse ele na
pirâmide dos tubarões, repunha-o!
O problema é que o poder subira-lhe à cabeça, e
via-se já como sendo ele o presidente do FMI ou coisa parecida, e o dinheiro,
conforme entrava mais, encarregava-se ele de do fazer sair, naquilo que, como
ele dizia, era uma projeção do sucesso, que por sua vez atraia mais sucesso.
Agarrasse ele no sucesso todo que ia obtendo e o
enfiasse no cú, que era onde ele tanto gostava de apanhar em longas sessões de
BDSM, algemado e de coleira, como um cachorro desobediente. Desenvolvera aquele
fetishe quando se apercebera que era coisa in do pessoal das altas esferas.
Era in, era… cambada de frustrados que passam o dia
a foder desgraçados e à noite procuram dominatrixes e putas da alta roda que os
façam sentir castigados pelo mal comportados que são.
Da primeira vez que ele lho sugeriu, estavam a ver
um filme qualquer em que um magnata qualquer estava de gatas todo nu com um
cinto donde pendia uma cauda do género de cauda de cavalo, e ela o vergastava
com um pingalim enquanto o xingava de tudo quanto era nome feio, e o obrigava a
lamber-lhe as botas de couro negro reluzente, que lhe iam até meio das coxas
roliças de cavalona. O ar de cãozinho dele, quando a olhou, nesse dia ficar-lhe-ia
como uma das mais patéticas recordações dele.
Ela nem quis acreditar que ele achara piada àquilo,
e falaram sobre isso. Deixou-se embarcar no papel, embora por dentro achasse
tudo aquilo tão ridículo, que teve que fazer um esforço para conter o riso.
Foi-lhe sincera, não achava piada nenhuma; quando muito, a ser ela sujeita às
sevícias – desde que moderadas – mas não se conseguia ver no papel dominante.
Simplesmente era feminina demais, e achava que o perfil para aquilo seria
sempre o de uma mulher com alguma tendência para o lesbianismo, mas como não
era entendida na matéria, nem se queria preocupar muito com o assunto, pois se
o fizesse depressa se aperceberia que se estavam a tornar água e azeite.
Com os meses e com a recente promoção, viera a cada
vez mais tardia chegada, as esquivas trocas de roupa, ou às escuras ou na casa
de banho, as nítidas marcas de chibatadas que ela fingiu não reparar; as que
pareceram queimaduras de cera no peito duma outra vez, que até pomada teve que
andar a pôr às escondidas – como se depois de adormecer como uma pedra, ela não
lhe pudesse abrir o pijama sem que ele se desse conta.
Jã não tinham rigorosamente nada há três meses.
Nada!
O casamento já pouco mais era que uma parceria
comercial em que o único objetivo era perderem o mínimo possível do
investimento inicial, para assim que pudessem encerrarem a atividade e
extinguirem a empresa.
Com a cabeça tão imersa em tudo aquilo, claro que
tinha que dar merda!
Ao fundo da reta do aeródromo de Cascais, um lençol
de água que não concordou com os termos com que o Smart negociou a trajetória,
e foi por um triz que não deu uma série de cambalhotas pelo descampado a fora;
limitou-se a depois dum violento safanão quando embateu numa vala mais funda,
ficar meio inclinado para a direta.
Bonito serviço!
Sabendo de antemão que de nada lhe serviria, pôs o
seletor no R e ouviu a lama do pneu a salpicar-lhe a parte de baixo do carrito.
Tinha ficado com uma roda no ar. Afinal não era bonito, era lindo; lindo
serviço!
Fez um breve cálculo, devia ter entrado pela fazenda
adentro uns cinquenta o mais metros. Apanhou a mala que espantalhara todas as
cento e oitenta e quatro coisas diferentes que uma mulher normal trás sempre
dentro da mala, e tentou localizar o bendito iphone no meio da barafunda que
forrava o tapete do pendura. Apanhou-o e assustou-se quando ele lhe tremeu na
mão.
Sentiu-se no meio dum filme do Woody Alen, tão
surreal foi aquele momento. Feita parva, ficou a olhar para o visor; era ela
que estava a ligar!
Olhou em volta, à procura de alguma coisa que a
assegurasse de que não tinha morrido ou coisa parecida, e aquilo fosse uma
espécie de experiência extracorpórea adaptada às novas tecnologias, onde a sua
consciência lhe estivesse para dar nas orelhas pela estupidez de ter entrado
naquela curva àquela velocidade e agora tinha morrido!
Sussurrou quando atendeu.
“Está lá? Está lá alguém? Dr.ª Filipa?”
Sacudiu a cabeça quando ouviu a sua voz; soava-lhe
estranha. Não era mesmo nada parecida com a voz que ela se ouvia quando falava,
mas isso era normal, até custa a acreditar que é a nossa voz quando a ouvimos
gravada, mas aquela era realmente muito estranha. Para já, era uma voz forte,
de homem, e soava estranhamente familiar…
“Dr. Luís??”
“Estou. Dr.ª Filipa? Sim, sou eu, o Luís Mestre,
parece-me que trocámos os telefones…”
Não conseguiu prender um risinho nervoso, que ele, do
outro lado não percebeu. Antes que enlameasse mais o seu já de rastos amor-próprio
do que os guarda-lamas do carro, apressou-se a falar o mais coerentemente para
lhe explicar o que acontecera e porque soltara aquele risinho de teenager esgrouviada.
“Peço desculpa Dr. Luís, acabei de ter um acidente,
e…”
“Como? Um acidente? Mas… a Dr.ª está bem, não está
ferida?”
“Não Dr., felizmente estou bem obrigada. Já do meu
orgulho é que não posso dizer o mesmo; despistei-me e saí da estrada. Só que
estou no meio duma fazenda no meio de nenhures e não se vê vivalma nem passa
carro nenhum. Ia a pegar no telemóvel no exato instante que o Dr. ligou e
apanhei um susto que nem queira saber…”
“Bem, que história! Então e agora? Quer que avise
alguém? Que chame o pronto-socorro? Em que posso ajudá-la? Onde está?”
“Estou ao fundo da reta do aeródromo de Cascais. Não
sei se sabe onde é…”
“Quer que eu avise alguém?”
A forma clara como ele fez a pergunta, fê-la
aperceber de que ignorara a primeira vez que ele perguntou. Sem acreditar no
que a boca verbalizou, e menos ainda no tom seco em que o fez, respondeu.
“Não.”
“Eu vou para aí. Até já.”
Segundos depois viu o visor do telemóvel acender-se
com a aplicação que o localizava. Ele guiar-se-ia pelo sinal de GPS e vinha a
caminho.
Para quê?
Imaginou-o ao volante. Viu-lhe os olhos atentos e as mãos fortes a agarrar seguramente o volante, imaginou o seu carro um daqueles carrões grandes e potentes, dos que passam a voar baixinho na autoestrada e faziam o Smartzinho abanar com a deslocação de ar que provocavam. E sentiu o pensamento travar a fundo com um chiar agudo quando passou à imagem das mãos dele. Não eram mãos de advogado; eram de atleta, eram enormes e os dedos eram esguios, porém fortes.
Imaginou-o ao volante. Viu-lhe os olhos atentos e as mãos fortes a agarrar seguramente o volante, imaginou o seu carro um daqueles carrões grandes e potentes, dos que passam a voar baixinho na autoestrada e faziam o Smartzinho abanar com a deslocação de ar que provocavam. E sentiu o pensamento travar a fundo com um chiar agudo quando passou à imagem das mãos dele. Não eram mãos de advogado; eram de atleta, eram enormes e os dedos eram esguios, porém fortes.
Fechou os olhos, para melhor os ver. Ocorrera-lhe,
durante a reunião de que eram dedos de pianista, e agora ali, na completa
escuridão – desligara o motor e as luzes, não fosse passar alguém conhecido e
inviabilizar aquele tão lesto e empenhado salvamento – levou uma mão ao pescoço
e fez-se uma massagem a si própria imaginando como o toque da dele a faria
tremer até ao centro da sua alma. Experimentou dizer o nome dele baixinho, para
ver como lhe soava em modo intimista e sem o dê érre a apitar à frente
“Luís… Luís Mestre…”
Sentia o paladar daquelas palavras na língua, e
ficou a saboreá-las até que se lembrou do estado deplorável em que se lhe
apresentaria quando chegasse ao ultramar de lama alcatrão! Lembrou-se que tinha
uns ténis na bagageira – pronto, no porta-luvas traseiro – do Smart. Esticou-se
e chegou a um, e estava a tentar pescar o outro, usando a caixa dos óculos como
extensão do braço quando viu uns faróis ao fundo da reta. Lá o conseguiu
arrastar o necessário para o conseguir pegar precariamente entre o indicador e
o médio. Trouxe-o para junto do irmão gémeo, e calçou-os.
Entre dois quilos de lama agarrada a cada um dos
Prada, e o que lhe restava de mínima compostura vir a arruinar-se quando lhe
aparecesse com uns ténis velhos rosa choque que conjugavam com o saia-casaco
escuro e camisa branca como uma bola de espelhos sobre um caixão, que se
lixasse a compostura!
E sempre era ele que lá vinha. Parou na berma,
iluminando-lhe o caminho com os faróis apontados, e ficou a observá-la naquele
equilibrismo delicado no trilho estreito das rodas que o carro fizera ao alisar
as levas e os torrões de terra lavrada.
Felizmente parara de chover, o que lhe preservava um
mínimo de apresentação, ou senão os seus caracóis pareceriam um penteado afro à
anos setenta!
Ele saíra do carro e aguardava-a. Recebeu-lhe a
pasta e o saco do computador; fez umas contas de cabeça ao tempo que passaria
de cu para o ar a limpar aquele carro de mão de lama que ela deixaria no tapete
se entrasse assim para o carro, mas não disse nada. Abriu a porta de trás do
lado dela e pôs lá as tralhas dela, abriu-lhe a porta e nem quis ver o desastre
que se seguiria. Deu a volta ao carro e entrou.
Foi a vez dele se perguntar o que raio se tinha
passado ali, quando em vez do lamaçal, ela tinha aqueles sapatos pretos de
salto alto que o lhe vira quando ela entrara na sala de reuniões, quatro horas
antes, e que lhe desenhavam os gémeos e aqueles dois centímetros de coxa que a
saia deixava adivinhar, como se torneadas no mais sublime dos engenhos, às mãos
do mais exímio torneiro!
Nunca se viria a aperceber que ela, conforme se
sentara no carro com as pernas de fora descalçara os ténis lá fora e enfiara os
Prada que tinha na mala.
“Dr. Luís, que maçada. Não sei como agradecer…”
“Eu sei! Pode começar por deixar de me tratar por
doutor. Trate-me, que eu gosto muito do meu nome, por Mestre!”
Ficou a olhar para a cara dela aparvalhada, que à
espera de o ouvir dizer Luís, já se preparava para retribuir, pedindo-lhe para
a tratar por Filipa. Contudo ele não manteve a seriedade por mais tempo.
“Desculpe-me, mas ter um nome destes e não
aproveitar esta piada seria um desperdício, não acha?”
“Eu sei lá, depois do que tem sido este fim de dia,
eu já nem sei o que pensar nem o que achar nem nada. Mas pronto, apanhou-me!”
Olhou para ele por cima dos óculos, com aquele ar de executiva séria que dava
com os homens todos em malucos e acrescentou. “E como me salvou, acho que isso
me faz, de alguma forma sua escrava, não?”
“De alguma forma, sim!” sacana, não desarmou. “E vai
começar por ter que me acompanhar a jantar; Sushi, gosta, não gosta?”
“Adoro. Onde?”
“No Château Maître!”
“Ahhh… pois claro, pois então!”
Ligou para não sei onde e deixou-me pasmada!
No meio daquela algaraviada que identificou, pelo Konbanwa
ao início e pelo Arigatô final, como japonês. Na escala
de primeira impressão, onde no um se liga para a telepizza, onde ficará o encomendar sushi? Seguramente no dez!
pois… e se o telefonema for todo feito em japonês? Há de ser coisa para
rebentar com qualquer escala!
Levou a mão
ao bolso do casaco, tirou o telemóvel e estendeu-lho. Ela pegou-o e devolveu o
dele.
Nos vinte
minutos que demoraram até casa dele, um apartamento que devia ser preciso um
mapa para não se perderem lá dentro, bem no centro da Lapa, ele ficou a saber o
pouco que precisava dela, e ela o nada que queria saber acerca dele. Já para
não falar que, embora mal, era casada, havia a questão ética da complicada
negociação em que representavam ele um gigante da farmacêutica e ela um importador
que tinha saído lesado com uma remessa que apresentava um defeito no
embalamento.
Em disputa
estava um acordo em que um não queria pagar e o outro não queria deixar de
receber, e o montante era qualquer coisa que rondava um milhão e meio de Euros.
Ela saíra da
reunião com a nítida sensação de estar por cima em termos de posição negocial,
mas agora, os papéis tinham-se invertido drasticamente.
Ele era
casado. A mulher era japonesa, um quadro superior dum dos maiores fabricantes
automóveis nipónicos, e passava uma boa parte do ano no Japão, e o apartamento
era ele próprio um pedaço do país do sol nascente. Sem cerimónias, o Luís
informou-a de que podia usar a casa de banho do quarto de hóspedes.
Despiu-se e entrou no duche. Parecia agir como se debaixo de alguma hipnose, mas não estava. Limitava-se a deixar-se viver momento após momento. nem se deu ao trabalho de trancar a porta da casa de banho, fechou os olhos e imaginou o que faria se ele ali entrasse: nada, não faria rigorosamente nada; se ele ali entrasse seria porque queria vê-la, ou o que quisesse para além disso. E ela deixá-lo-ia. Ela queria sentir o poder da subjugação.
Despiu-se e entrou no duche. Parecia agir como se debaixo de alguma hipnose, mas não estava. Limitava-se a deixar-se viver momento após momento. nem se deu ao trabalho de trancar a porta da casa de banho, fechou os olhos e imaginou o que faria se ele ali entrasse: nada, não faria rigorosamente nada; se ele ali entrasse seria porque queria vê-la, ou o que quisesse para além disso. E ela deixá-lo-ia. Ela queria sentir o poder da subjugação.
Sobre a cama
estava um quimono, e nada mais! Ele nada dissera que fosse para ela vestir, mas
só podia. Tomou um duche rápido, secou o cabelo meio à pressa e ficou com um ar
tremendamente sexy.
O toque do
material sobre a sua pele deixou-a nervosamente sensível. Sabia que a roupa
devia ser da mulher dele, mas uma vez que o mais que certo é que acabaria por
usar o que iria usar do marido, usar o vestido era simplesmente irrisório!
Olhou-se ao
espelho e sentiu-se mais feminina do que alguma vez se sentira fosse com que lingerie fosse!
Ia a sair do
quarto quando ouviu vozes. Entrou na sala e deparou-se com dois empregados
vestidos a rigor, japoneses. A mesa de jantar desaparecera, e no seu lugar
estava uma baixinha e estreita com umas almofadas de cada lado.
O lume
crepitava na lareira, e ele instruiu qualquer coisa aos empregados em japonês,
que se despediram reverentemente como pelos vistos era mesmo habitual, e não
uma coisa mais exacerbada nos filmes.
Estavam
enfim sós.
A ocupar a mesa toda, arrumadinhos em filas milimetricamente alinhadas, todas aquelas formas de sushi e sashimi e uma garrafa de forma bizarra que só podia ser saquê.
A ocupar a mesa toda, arrumadinhos em filas milimetricamente alinhadas, todas aquelas formas de sushi e sashimi e uma garrafa de forma bizarra que só podia ser saquê.
A Filipa
esperava que ele também estivesse de quimono, mas não. Estava como o tinha
visto, alargara a gravata, arregaçara as mangas da camisa e simplesmente tirara
os sapatos.
Jantaram
lentamente, conversaram de tudo menos de trabalho, e de casamentos. Tudo isso
pertencia ao mundo e eles tinham saído dele, por algum tempo; tempo que seria
deles e só deles. Todos queles sabores exóticos e controversos ao paladar, mas
que no final deixam aquela saudade que só quem aprecia verdadeiramente entende foram
delicadamente retidos. Já passava das onze quando ele se levantou, rodou a mesa
e ajudou-a a levantar.
Sem
palavras, ele guiou-a ao quarto. Duas molduras deitadas impediam que os olhos
da mulher vissem de que forma fosse, quando ele se chegou por trás
dela e lhe prendeu o cabelo para lhe descobrir aquele ponto, entre a nuca e a
orelha, que quase o tinha impulsionado no corredor do escritório a agarrá-la,
para lá a beijar.
Ela esperava
que ela a despisse, mas ouviu o som de roupa a roçar noutra, percebeu o que era
quando ele lhe aproximou a gravata da cara e a vendou.
Não sabia
muito acerca de gueixas, mas pelo
pouco que sabia, seria o que a elas mais associava: a total e completa
submissão.
O Mestre abriu-lhe o quimono, e ela sentia-se ainda mais exposta, do que se estivesse
completamente despida. Sentiu-lhe a mão subir-lhe daquela linha onde começam os
pelos púbicos, lentamente sentindo-lhe a forma ligeiramente arredondada – mas
terrivelmente sedutora – da barriga dela. Quanto ele não lha quisera conhecer com as mãos, tão perfeitamente encaixada na sua saia de executiva que lhe parecia a das fardas de gala das soldados Femininas, durante as horas que ela o tinha cilindrado!
Agora
conhecia-a por fim! E os peitos dela… pareciam mangas a rebentar de maduras!
Grandes, muito maiores do que à partida se suporia pela delicada compleição
dela, e principalmente pela sobriedade da roupa com que a vira na reunião, mas
ele, habituado ao que é um corpo de mulher, não se surpreendeu. Tocou-lhes ao
de leve e ela estremeceu.
A Filipa
sentiu-lhe os dedos roçarem-lhe pescoço acima e acompanharem a curva suave do
seu queixo. Sentiu-o força-lo ligeiramente de modo a que ela abrisse a boca.
Ela
mantinha-se de braços esticados ao longo do corpo, mas aí não resistiu a querer
tocá-lo; ele ficou fulo.
“Quieta
mulher!” Sentiu-se puxada pela nuca ao encontro da cara dele. O arrepio que lhe
começava a passar do berro prévio, foi reavivado multiplicado por dez quando
lhe sentiu o roçar da barba de três dias impecavelmente aparada.
“Responde-me
quando eu falo contigo!”
“Sim.”
“Sim?! Sim?!
Com quem pensas que estás a falar? Responde como deve ser; agora! JÁ”
“Sim… M…Mestre!”
O sabor que o nome lhe deixara na língua, quando à
espera dele no carro, fantasiara com algo que já tinha a certeza, acabaria por
acontecer, não tinha nada a ver com o que agora sentira ao dizê-lo, mas ao mesmo tempo, era o que de alguma forma melhor
colava com ele. Era como se fosse o mesmo sabor mas com um toque de wasabi, e o resultado era surpreendentemente similar, pelo exotismo, que aqulele provoca nas papilas!
“Quero ouvir-te dizê-lo com convicção; não a gaguejar!!!”
“Quero ouvir-te dizê-lo com convicção; não a gaguejar!!!”
“Sim, Mestre!”
Estremeceu toda por dentro. Nunca se sentira tão
vulnerável em toda a sua vida. Ali estava, despida à frente dum desconhecido,
ninguém sabia onde é que ela estava, e reafirmava-lhe a completa e incondicional
submissão. Sentiu os peitos enrijarem ainda mais e os mamilos quase doíam de
tão enrijados pela tesão que de repente sentiu humedecer num pingo escorrido
para a parte interior da coxa esquerda. Uniu as coxas de modo a esfregá-las uma
na outra; teve a esperança de o fazer sem que o mestre reparasse. Deu-se mal;
não conseguiu, e ele agarrou-lhe a mama direita com força, deixando-a descobrir
a indescritível força dos seus dedos longos.
A outra mão pegou-lhe então na cara, e com o polegar,
correu-lhe os lábios a toda a volta. Insinuando-se entre eles, fê-la entender
que a queria de boca entreaberta, e deslizou o polegar entre os dentes até que
o sentiu tocar-lhe na língua. Fê-lo entrar e sair da boca dela até que ela
arriscou a unir os lábios à volta e o começou a chupar. Sentia-lhe a respiração
no pescoço, e o corpo que ele irradiava do corpo, sentia-o na pele.
A mão que lhe esborrachava a mama largou-a e sem
aviso plantou-se impudica sobre a sua pelagem criteriosamente aparada; cobria-a
toda e a ponta dos dedos deslizaram sem resistência entre os lábios exteriores
e tocavam-na sensitivamente nos pequenos. Sentia-a pronta, deserta por mais. Aquilo
sim, era ter poder sobre uma mulher. Fazê-la entregar-se completamente aos seus
caprichos. E tão excitada que não só deixava fazer tudo como implorava que
fizesse ainda mais. Ainda que não o fizesse com palavras da boca de cima, a de
baixo, na língua universal confessava-se pronta a servir para o que milhões de
anos de evolução tinham preparado o corpo duma mulher.
O peito dela subia e descia cada vez mais ofegante. Cada
vez mais ávida de estímulos, viessem eles de onde viessem!
Tinha contudo, de se contentar com o que ele lhe
concedia.
Pelo lado dele, estava quilhada; não seria cedo que Luís
a apaziguaria. Nunca vira uma mulher como ela, com aquele fogo contido no
olhar, com aquela necessidade de submissão que se lhe via nas subtis revelações
inconscientes durante toda a tarde. Por detrás daquela impenetrável
negociadora, ele vira a fêmea que, oprimida, gritava a revolta de mais não
aguentar.
Acabara por resultar ainda melhor do que alguma vez
planeara ao trocar o iPhone com o dela. Ele planeava forçar um encontro pouco
depois de ela sair do edifício, mas aquele pancona do Guimarães tinha que
vir com aquelas paneleirices da festa surpresa à D. Susana, e precisava porque
precisava mesmo do ficheiro que ele tinha onde? Pois; no iPhone!
Era cedo demais, arrasaria toda e qualquer hipótese
de fazer fosse o que fosse no sentido de a convencer a estarem a sós. Voara ao
escritório, ligara o computador e abrira a nuvem para descarregar o maldito Excel.
O plano inicial era ligar-lhe uns quinze minutos
depois de ela ter saído da reunião, e quando o conseguiu, três quartos de hora
depois, receou que ela já tivesse chegado a casa, fosse lá onde fosse. Só sabia
que ela morava para a zona do Estoril, mas tudo acabara por correr
maravilhosamente bem: ali a tinha, à sua completa mercê.
“Ajoelha-te!”
Ela obedeceu prontamente.
“Mantém as mãos atrás das costas”, agarrou-lhe nos
cabelos com força para lhe inclinar a cabeça de lado, para que o ouvisse bem. “E
nem penses mexê-las!”
“Sim Mestre.”
“Linda menina.”
Chegou-se a ela, por trás, com que ela o ouvisse a
abrir o cinto. Tirou-o, não podia esperar por lhe fazer o derradeiro teste:
dobrou-o ao meio, e enfolou-o de modo a, quando afastou os braços com força ele
estalou violentamente com um baque inconfundível. Ela estremeceu ao som. Mas não
se mexeu.
Repetiu, agora mais perto dela, e nada. Para além
duma cada vez mais ansiedade patente na respiração, a Filipa nada fez para fugir,
ou para se desvendar, ou para que ele parasse.
Assim sim! Ela vivia aquilo simetricamente à forma
como ele o vivia.
E a sua boca, ela enlouquecia-o com aquela boca de
sonho. Fizera-o sentir mais no polegar do que toda e qualquer outra mulher
alguma vez conseguira a mamá-lo.
Enfiou-lhe o indicador, e depois o médio pela boca
dentro, à bruta! Queria ver até onde é que ela ia, e ela lutou contra ela mesma
de forma a não o desagradar. Ela era sua escrava; se ele lhe queria enfiar os
dedos na boca ela dar-lhe-ia a boca toda para ele explorar.
Esperava só que, depois de a explorar como bem
entendesse, lhe concedesse um pouco de atenção; ele sabia como aquilo a estava
a excitar. E se se portasse bem, talvez depois a deixasse libertar aquela
energia toda que acumulava sob a forma da mais explosiva fome.
(continua)
Fantastico... ja estou ansioso pela continuação
ResponderEliminarBeijo
Ricardo