quarta-feira, 4 de junho de 2014

Tardes loucas de uma mulher casada (Final)

Como sabem, a vida é feita de altos e baixos, e não como designadamente nos contos – sejam eles de fadas ou de fodas! – passada aquela  euforia inicial, a minha líbido pôde por fim, como uma anaconda empanturrada com algum incauto tapir, gozar o seu lauto repasto e sossegar meio adormentada.
Mas dormente não é sequer adormecida, e muito menos ainda morta!
Voltei à minha rotina diária de volta do texto, com a motivação acrescida da consciência de que aquilo era o que eu efetivamente queria fazer profissionalmente. Nunca me apercebera da importância e responsabilidade do trabalho do editor no resultado final que irá para as prensas e acabará nas mãos do leitor. O autor, quando escreve, fá-lo a quente, e por vezes não se percebe que tem a mesma palavra por exemplo repetida dois ou três parágrafos adiante. Sabendo que o tempo que os separa, por vezes chega a ser horas, é normal. E aqui entrava eu, a limar esta e aquela aresta; a tirar esta esquina e aquele buraco e a tornar a leitura mais fluida. Esta é aliás, quanto a mim, a melhor definição para o meu trabalho: fazer a ponte entre o – neste caso a – autora e o leitor.
Fui revendo capítulo a capítulo, e conforme os revia enviava-os à Rosa, que por sua vez ou concordava com as alterações sugeridas ou então reescrevia ela tendo em conta a minha sugestão.
Se já gostara dela quando a lera, fui gostando ainda mais a cada dia que fui trabalhando com ela, e sentia nitidamente que o sentimento era recíproco.
Ao fim de duas semanas, tínhamos o trabalho concluído. Pude por fim descansar um pouco.
Ter-me embrenhado tão a fundo na história daquele casal, cujo marido se assumira como o mais dedicado, apaixonado e assumido corno-manso, e vivia para proporcionar à mulher as mais indescritíveis – mas que a Rosa Mateus descrevia ao mais detalhado pormenor – noites de sexo puro e duro selvática e bestialmente barradas com o mais verdadeiro amor. Sendo aquele ministrado pelo amante e este pelo marido, que enquanto a mulher servia de pedaço de carne para foder à infinita tesão do cavaleiro, a beijava, lhe pegava na mão e a segurava nos braços para a ajudar a suportar cada estocada com que aquele monstro sexual a fazia perder a noção do tempo e do espaço de tanto prazer a que era sujeita.
Nunca esquecendo a prova maior de amor que um marido pode dar à sua mulher. Vir imediatamente após a devastação, dar o divino consolo das carnes arrasadas com os mais ternurentos e apaixonados linguados de quatro lábios e uma só língua, em que a única recompensa que ele tinha era os gemidos apaixonados da mulher e o creme de macho com que o amante dela a recheara, e lhe assegurava sem a menor dúvida que a mulher fora efetivamente bem tratada como merecia; como a Rainha das Mulheres e Imperatriz das Putas!
Não querendo plagiar a Rosa, mas o que ela dizia com “…milhares de imagens, tivessem penetrado na sua mente, transformando-se em sementes de fantasia que a deixavam incendiada”, era exatamente o que eu sentia quanto fechava os olhos e pensava no enredo do “RIBATEJO ARDENTE”.
Conhecendo-mo como me conheço, sabia perfeitamente que aquelas sementes também em mim ficariam plantadas e mais hoje, mais amanhã, germinariam também e dariam frutos.
Cabia-me a mim, e aos infinitos arte e engenhos duma mulher, fazer com que também na cabeça do Nando essas sementes germinassem. Sorri para mim mesma sabendo como, no caso específico da sua cabeça, o que delas germinasse assumiria a forma engraçada dum valente par de cornos; cabia-me a mim a responsabilidade de fazer com que, em vez de vergonha, ele viesse a desenvolver orgulho e determinação de cada vez que se consciencializasse do tremendo peso que tais ornamentos representariam.
O que eu queria não era um affair, ou uma aventura extramatrimonial, isso além de vazio e estupidamente fácil, não me traria o que eu realmente desejava: aquele boost na nossa intimidade e cumplicidade que – tinha a certeza – se traduziria num galvanizar do nosso amor.
Não podia, pelo menos para já, pensar em envolver alguém conhecido, teria que ser alguém de fora. Alguém saudável e que não levantasse objeções a fazer o que fosse preciso para poder participar duma aventura assim no seio dum matrimónio consagrado pelos votos de Deus e dos homens. Teria que ser alguém disposto a provar, com toda uma bateria de exames médicos que dele, a única coisa que jorrasse, seria esporra a montes, tesão às carradas e luxúria desmedida!
Comecei pelo mais óbvio terreno de caça: o Facebook!
E em nenhum outro caso se nota a superioridade da mulher face ao homem. Isto sem tirar pedaço ao que, em qualquer bar, discoteca, trabalho, rua ou vizinhança, se passa em termos de possibilidades de engate, mas aí a presença física sempre atenua um pouco os avanços e modera as intenções. Mas ali, onde por mais que os homens, taditos, se achem no papel de caçadores, são eles as presas.
Pois é querida Rosa, nem mais. “É nisso que assenta a minha convicção de que uma mulher não se conquista; entrega-se. É como um jogo, só que a mulher parte sempre com a vantagem de ser ela a decidir se joga ou não.”
Escolhi a minha presa. Um J. G.; polícia, trinta e poucos anos, prontamente disposto a enviar as mais esclarecedoras fotos, que deixavam adivinhar a melhor das performances na hora H, tanto pelo corpo musculado como pelo seu admirável apetrecho. Meti conversa com ele, e expliquei-lhe pormenorizadamente os meus planos.
Achou que era esmola a mais, e exigiu um encontro. Engoli em seco quando ele o escreveu. Pensei um pouco e decidi que, se ganhasse a coragem, quando fosse novamente a Lisboa, me encontraria com ele.
Deu-me o seu número de telefone, e assim ficou combinado.
Mas é impressionante o poder da natureza e terríveis os efeitos do proibido. Tentei, através da sua “conversa”, aperceber-me se seria interessante o suficiente para o plano que eu orquestrei: fá-lo-ia passar por um “cliente”, que me enviasse um texto para análise, e avançaria a partir daí. Pela sua maneira de escrever, notava-lhe o necessário, e marquei o encontro com ele.
Na semana seguinte, na esplanada do Nicola, em pleno Rossio a meio da tarde, a tremer que nem varas verdes, vejo-o chegar. Tinha combinado esperá-lo se pé, junto a uma caixa daquelas metálicas da PT, das linhas telefónicas uns metros desviada da esplanada, e topei-o ao longe, vindo da rua Augusta.
Uma camisa justa evidenciava o seu físico bem trabalhado, e as calças de ganga de marca, assentavam-lhe como só as calças de marca o fazem; perfeitas. Era mais alto do que o imaginara, os dez centímetros que tinha a mais que o meu marido não eram só os dez centímetros que à partida eu visualizara, faziam-no um muito mais imponente espécime masculino. A materialização duma fantasia faz-nos tomar consciência do que realmente estamos a fazer, e a dualidade de sentimentos é viciante. Face à razão, o “quero lá saber”, e o “Meu Deus o que é que eu aqui estou a fazer?” têm um efeito simplesmente corrosivo, e naquela esplanada não foi diferente.
O J.G. parou, olhou em volta com o seu olho treinado de polícia de intervenção, e tive a certeza de que soube que era eu, não obstante a minha aparente alheação àquilo tudo que se estava a passar no meio do reboliço. Levou a mão ao bolso, tirou o telemóvel e olhou para ele. Como um lince olhou direto para mim nesse preciso momento, a apanhou-me. Sorriu, dirigiu-se para mim, e eu simplesmente não consegui disfarçar. Pela minha cara teve a confirmação que ainda lhe faltava. A transpirar uma autoconfiança que me fez tremer toda, nem esperou que eu o convidasse, puxou uma cadeira e, antes de se sentar estendeu-me a mão para me cumprimentar.
O toque dele, forte e suave, surpreendeu-me. É impressionante como a nossa sensibilidade se adequa ao que se passa. O simples facto de eu saber que a razão de ali estar era avaliar se ia para frente com a minha eventual ida para a cama com ele, deixou-me permeável ao um novo nível sensorial, que me estimulou o que normalmente não estimula no dia a dia quando tocava outras pessoas.
“Olá, sempre vieste!”
“Tinhas dúvidas…”
“Já me aconteceu antes, acabar numa caça aos gambuzinos. É sempre um risco que se corre, e sem correr riscos, pouco se alcança, não é?”
“Tens razão!”
“E?”
“E o quê?”
“O que achas de mim?”
“O que achei quando falei contigo pela primeira vez. Mesmo antes de te ver como nem a tua mãe alguma vez te viu! Ou pelo menos assim o espero…”
Sorriu, meio envergonhado. “É verdade, ela nunca me viu assim… tão animado como eu estava quando me tirei as fotos que te mandei!”
“Vocês homens, realmente são todos iguais. Tu não acreditas mesmo que não é aquilo que faz com que algo venha a acontecer, pois não?”
“Acaba por ser, ou duma maneira ou doutra, acaba por assegurar a nossa “disponibilidade” para a ação.”
Whatever… adiante, percebeste o meu plano?”
“Percebi. E podes contar comigo.”
“Só quero que mantenhas isto bem presente: eu não quero mandar umas por fora. Aquilo que eu quero de ti – caso aceites – é no fundo usar-te como um objeto sexual nosso. vais ser um Dildo com pernas e cabeça, que vais servir para o que te dissermos para servires! Se isto te fere o teu orgulho de macho, ou te deixa intimidado, pensa bem porque não quero a mínima confusão. Já basta o que isto pode provocar.”
“Eu entendi perfeitamente. Eu também não quero a mínima confusão com a minha namorada, e quero muito participar numa cena destas. Em relação às análises, eu também vou querer ver as vossas.”
“As minhas sem problema; as do meu marido é que vai ser mais difícil…”
“Tu confias nele?”
“Acima de tudo, mas isso vale o que vale, não é? Ele também confia em mim e olha-me aqui, a falar o que estou a falar contigo.”
“Tens razão…”
 Conversámos mais um pouco, eu tinha que apanhar o comboio das 15:48 para estar no entroncamento por volta das cinco e pouco a tempo de ir buscar meu sobrinho à escola, e ele acompanhou-me a Sª Apolónia no metro. Foi comigo até à plataforma e eu sentia a sua necessidade por alguma coisa que lhe assegurasse que não tinha perdido o seu tempo. Faltavam dez minutos para a hora do comboio, e mandei tudo às urtigas quando o puxei para dentro da carruagem vazia que já lá estava à espera. Dei-lhe o que ele precisava: uma oportunidade de me tocar. Chegou-se atrás de mim e inclinou-se para me beijar o pescoço, apanhando-me o cabelo todo numa mão cheia. Fraquejei nos joelhos e encostei-me mais a ele. Sentia-o pronto por mim, e toquei-o.
Isso fê-lo voltar-me dentro dos seus braços grossos e sem eu saber muito bem como estava a ser beijada com uma volúpia quase obscena por outro homem que não conhecia de lado nenhum, e aquele beijo, mais do que as suas mãos omnipresentes por todo o meu corpo, deixaram-me suficientemente descontrolada ao ponto de ainda me ter passado um pensamento pela cabeça de não apanhar aquele comboio e apanhar outro mais tarde.
Valeu-me ter entrado uma senhora mulata, que discretamente fingiu que éramos transparentes e fez-me ganhar consciência de que podia muito bem ser alguma das centenas de pessoas que todos os dias, a toda a hora apanham o comboio de e para o Entroncamento.
Com o sabor do seu tesão na minha boca, pela forma como ele mo fizera sentir com aquele beijo de tirar o fôlego até à mais experiente mergulhadora, afastei-o. Empurrei-o para a porta e evitei olhar sequer para ele antes que estivesse lá fora.
Não ficou à espera, foi embora fazendo o gesto de teclar, indicando que falaríamos pelo Facebook, e fiquei a ver aquele rabo de sonho a afastar-se.
Minha Nossa Senhora das Perdições! O que é que eu tinha acabado de fazer? Ainda bem que fora tudo planeado para não ter mais tempo; se doutra forma tivesse sido, o que era suposto ter sido um casting teria sido logo a filmagem duma superprodução! E com mais sequelas do que a Star Wars!
Nesse dia ainda, pus o plano em ação. Referi por acaso aquele novo “cliente” que queria deixar em livro a realidade dum polícia de intervenção, o que passam nas operações pelos bairros problemáticos da periferia da grande Lisboa, e disto e daquilo, referindo-o sempre com o distanciamento necessário para parecer uma conversa casual, mas ao mesmo tempo que o Nando se lembrasse dele.
E resultou.
Mais tarde, na cama, ele perguntou-me se eu sabia como ele era. Disse-lhe que sim, claro. Que junto com o texto vinha imensas fotos dele em ação. Menti-lhe que em todas elas ele aparecia com a balacava posta, pois queria preservar a sua identidade, mas que devia ser um calmeirão musculado, pela sua figura fardado.
Esperei mais um pouco; muito pouco mesmo, e enquanto se posicionava no seu posto de combate cada vez mais frequente, pediu-me para o imaginar. Não imaginava ele como eu já o vinha fazendo há dias, e como naquele dia em particular isso me foi fácil.
Ficou todo inchado no ego por pensar que o meu estado de excitação que lhe encheu a boca dos sucos de cio que eu passara a tarde a segregar, se devessem todos a ele.
Como eu esperara, conforme a tesão o foi inebriando o bom-senso, foi-me espicaçando, e espicaçando até que por fim eu explodi numa verborreia insana a pedir-lhe que sim. Que queria que ele me arranjasse um outro homem para me montar como a uma cadela no cio, que lhe queria dar esse prazer, que queria ser assim puta dele, que ele me andava a deixar doida com aquelas sugestões, e que queria sentir um outro homem a esporrar-se todo dentro de mim enquanto ele me beijasse a boca com a língua e a mente com o olhar; resultado? O esperado. Montou-me com a fúria dum touro enraivecido. Puxava-me os cabelos fazendo-me arquear as costas e espetar-lhe as mamas na cara, abafou a cara no meio delas e mordeu-me ora num ora noutro mamilos com uma força muito além da comedida de quem se limita a fazer amor; fê-lo com a de quem fode, como uma mulher deve ser fodida – pelo menos de vez em quando!
Pela primeira vez de há já um bom tempo, não se retirou depois de se vir e continuou a bombar até se vir uma segunda vez.
Estávamos os dois alagados em suor e eu transbordava de molho de macho. Não pensei que ele mantivesse o fulgor mental necessário para a já habitual incursão pelos despojos do nosso prazer conjunto, mas surpreendeu-me. Não era só eu que me tinha viciado naquele jogo perverso, também ele se podia queixar dessa nova adição.
Éramos o vício e a cura, a origem e o fim do que o outro precisava para nos realizarmos plena e sexualmente como homem e mulher, como macho e fêmea.
Nem acreditei quando ele me pediu se podia ver uma foto do J.G., e eu disse-lhe que lhas mostrava no dia seguinte.
Eu dera o empurrão inicial naquele novo mundo, tão subtilmente como só uma mulher consegue e sabe fazer. E agora era só uma questão de me agarrar bem e deixar-me ir naquilo que, sabia-o tão bem como um e um são dois mas às vezes são três, acabaria por mais cedo do que imaginasse, me veria numa cama de perna aberta debaixo daquele metro e oitenta e quatro de policia bruto de intervenção, e a olhar para o olhar desvairado do Nando que, de boca aberta não conseguiria disfarçar a sua urgência em sentir-me as carnes moles todas empapadas em esporra de outro, para assim se excitar à doida e me levar ao mais recôndito dos cantos do sétimo céu.
Dada a sua voracidade no que me estava a fazer, nem hesitei em perguntar-lhe se ele o contactaria para organizar um fim de semana alucinante de sexo; eu sabia que, como ele estava, a tudo responderia com um irrefletido contudo sincero:
“Sim, se tu alinhares nisso, eu faço-o!”
“Ai amor, tu matas-me de tesão. E conseguiste!”
“Consegui o quê?”
“Transformaste uma lagarta numa borboleta! Uma esposa numa puta; a tua esposa na tua e só tua puta!”
Nem as palavras que Ali Babá gritava à montanha eram mais rápidas na eficácia em fazer a rocha mover-se como as minhas o moveram a ele, que passou dum amolecido estado de pós prazer à mais rígida prontidão,  e agora com um misto de tesão, paixão revestidas pelo cada vez maior amor que nos unia, procurou outra vez o seu eterno e sempre cativo lugar no Universo: entre as minhas pernas e dentro do meu ventre!
FIM


Como prometido, J. G. aqui tens!

Agradecimentos à minha querida amiga de armas, Rosa Mateus pela sua autorização a referi-la e ao seu romance “RIBATEJO ARDENTE – Segredo, Erotismo e Paixão”, que tanto me inspirou para o presente conto.
Espero que tenham gostado.
Dulce Torini 

3 comentários:

  1. Muito bom. Acho que tenho tempo para ler mais qualquer coisa... que viciaste!
    Cris

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  2. uau, isto sim é um conto, um desejo tornado realidade!!! nao sei porque mas o mesmo pensamento anda me a desafiar para fazer o mesmo...,!!!!!!!!

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"A maior desgraça que pode acontecer a qualquer escrito que se publica, não é muitas pessoas dizerem mal, é ninguém dizer nada." Nicolas Boileau