Como sabem, a vida é feita de altos e baixos, e não
como designadamente nos contos – sejam eles de fadas ou de fodas! – passada
aquela euforia inicial, a minha líbido
pôde por fim, como uma anaconda empanturrada com algum incauto tapir, gozar o
seu lauto repasto e sossegar meio adormentada.
Mas dormente não é sequer adormecida, e muito menos
ainda morta!
Voltei à minha rotina diária de volta do texto, com a
motivação acrescida da consciência de que aquilo era o que eu efetivamente
queria fazer profissionalmente. Nunca me apercebera da importância e
responsabilidade do trabalho do editor no resultado final que irá para as
prensas e acabará nas mãos do leitor. O autor, quando escreve, fá-lo a quente,
e por vezes não se percebe que tem a mesma palavra por exemplo repetida dois ou
três parágrafos adiante. Sabendo que o tempo que os separa, por vezes chega a
ser horas, é normal. E aqui entrava eu, a limar esta e aquela aresta; a tirar
esta esquina e aquele buraco e a tornar a leitura mais fluida. Esta é aliás,
quanto a mim, a melhor definição para o meu trabalho: fazer a ponte entre o –
neste caso a – autora e o leitor.
Fui revendo capítulo a capítulo, e conforme os revia
enviava-os à Rosa, que por sua vez ou concordava com as alterações sugeridas ou
então reescrevia ela tendo em conta a minha sugestão.
Se já gostara dela quando a lera, fui gostando ainda
mais a cada dia que fui trabalhando com ela, e sentia nitidamente que o
sentimento era recíproco.
Ao fim de duas semanas, tínhamos o trabalho concluído.
Pude por fim descansar um pouco.
Ter-me embrenhado tão a fundo na história daquele
casal, cujo marido se assumira como o mais dedicado, apaixonado e assumido
corno-manso, e vivia para proporcionar à mulher as mais indescritíveis – mas
que a Rosa Mateus descrevia ao mais detalhado pormenor – noites de sexo puro e
duro selvática e bestialmente barradas com o mais verdadeiro amor. Sendo aquele
ministrado pelo amante e este pelo marido, que enquanto a mulher servia de
pedaço de carne para foder à infinita tesão do cavaleiro, a beijava, lhe pegava
na mão e a segurava nos braços para a ajudar a suportar cada estocada com que
aquele monstro sexual a fazia perder a noção do tempo e do espaço de tanto
prazer a que era sujeita.
Nunca esquecendo a prova maior de amor que um marido
pode dar à sua mulher. Vir imediatamente após a devastação, dar o divino
consolo das carnes arrasadas com os mais ternurentos e apaixonados linguados de
quatro lábios e uma só língua, em que a única recompensa que ele tinha era os
gemidos apaixonados da mulher e o creme de macho com que o amante dela a
recheara, e lhe assegurava sem a menor dúvida que a mulher fora efetivamente
bem tratada como merecia; como a Rainha das Mulheres e Imperatriz das Putas!
Não querendo plagiar a Rosa, mas o que ela dizia com “…milhares de imagens, tivessem penetrado na sua mente,
transformando-se em sementes de fantasia que a deixavam incendiada”,
era exatamente o que eu sentia quanto fechava os olhos e pensava no enredo do
“RIBATEJO ARDENTE”.
Conhecendo-mo
como me conheço, sabia perfeitamente que aquelas sementes também em mim
ficariam plantadas e mais hoje, mais amanhã, germinariam também e dariam
frutos.
Cabia-me
a mim, e aos infinitos arte e engenhos duma mulher, fazer com que também na
cabeça do Nando essas sementes germinassem. Sorri para mim mesma sabendo como,
no caso específico da sua cabeça, o que delas germinasse assumiria a forma
engraçada dum valente par de cornos; cabia-me a mim a responsabilidade de fazer
com que, em vez de vergonha, ele viesse a desenvolver orgulho e determinação de
cada vez que se consciencializasse do tremendo peso que tais ornamentos
representariam.
O
que eu queria não era um affair, ou uma aventura extramatrimonial, isso além de
vazio e estupidamente fácil, não me traria o que eu realmente desejava: aquele boost na nossa intimidade e cumplicidade
que – tinha a certeza – se traduziria num galvanizar do nosso amor.
Não
podia, pelo menos para já, pensar em envolver alguém conhecido, teria que ser
alguém de fora. Alguém saudável e que não levantasse objeções a fazer o que
fosse preciso para poder participar duma aventura assim no seio dum matrimónio
consagrado pelos votos de Deus e dos homens. Teria que ser alguém disposto a
provar, com toda uma bateria de exames médicos que dele, a única coisa que
jorrasse, seria esporra a montes, tesão às carradas e luxúria desmedida!
Comecei
pelo mais óbvio terreno de caça: o Facebook!
E
em nenhum outro caso se nota a superioridade da mulher face ao homem. Isto sem
tirar pedaço ao que, em qualquer bar, discoteca, trabalho, rua ou vizinhança, se
passa em termos de possibilidades de engate, mas aí a presença física sempre
atenua um pouco os avanços e modera as intenções. Mas ali, onde por mais que os
homens, taditos, se achem no papel de caçadores, são eles as presas.
Pois é querida
Rosa, nem mais. “É nisso que assenta a
minha convicção de que uma mulher não se conquista; entrega-se. É como um jogo,
só que a mulher parte sempre com a vantagem de ser ela a decidir se joga ou
não.”
Escolhi a minha presa. Um J. G.; polícia, trinta e
poucos anos, prontamente disposto a enviar as mais esclarecedoras fotos, que
deixavam adivinhar a melhor das performances na hora H, tanto pelo corpo
musculado como pelo seu admirável apetrecho. Meti conversa com ele, e
expliquei-lhe pormenorizadamente os meus planos.
Achou que era esmola a mais, e exigiu um encontro.
Engoli em seco quando ele o escreveu. Pensei um pouco e decidi que, se ganhasse
a coragem, quando fosse novamente a Lisboa, me encontraria com ele.
Deu-me o seu número de telefone, e assim ficou
combinado.
Mas é impressionante o poder da natureza e terríveis
os efeitos do proibido. Tentei, através da sua “conversa”, aperceber-me se
seria interessante o suficiente para o plano que eu orquestrei: fá-lo-ia passar
por um “cliente”, que me enviasse um texto para análise, e avançaria a partir
daí. Pela sua maneira de escrever, notava-lhe o necessário, e marquei o
encontro com ele.
Na semana seguinte, na esplanada do Nicola, em pleno
Rossio a meio da tarde, a tremer que nem varas verdes, vejo-o chegar. Tinha combinado
esperá-lo se pé, junto a uma caixa daquelas metálicas da PT, das linhas
telefónicas uns metros desviada da esplanada, e topei-o ao longe, vindo da rua
Augusta.
Uma camisa justa evidenciava o seu físico bem
trabalhado, e as calças de ganga de marca, assentavam-lhe como só as calças de
marca o fazem; perfeitas. Era mais alto do que o imaginara, os dez centímetros que
tinha a mais que o meu marido não eram só os dez centímetros que à partida eu
visualizara, faziam-no um muito mais imponente espécime masculino. A materialização
duma fantasia faz-nos tomar consciência do que realmente estamos a fazer, e a
dualidade de sentimentos é viciante. Face à razão, o “quero lá saber”, e o “Meu
Deus o que é que eu aqui estou a fazer?” têm um efeito simplesmente corrosivo,
e naquela esplanada não foi diferente.
O J.G. parou, olhou em volta com o seu olho treinado
de polícia de intervenção, e tive a certeza de que soube que era eu, não
obstante a minha aparente alheação àquilo tudo que se estava a passar no meio
do reboliço. Levou a mão ao bolso, tirou o telemóvel e olhou para ele. Como um
lince olhou direto para mim nesse preciso momento, a apanhou-me. Sorriu, dirigiu-se
para mim, e eu simplesmente não consegui disfarçar. Pela minha cara teve a
confirmação que ainda lhe faltava. A transpirar uma autoconfiança que me fez
tremer toda, nem esperou que eu o convidasse, puxou uma cadeira e, antes de se
sentar estendeu-me a mão para me cumprimentar.
O toque dele, forte e suave, surpreendeu-me. É impressionante
como a nossa sensibilidade se adequa ao que se passa. O simples facto de eu
saber que a razão de ali estar era avaliar se ia para frente com a minha
eventual ida para a cama com ele, deixou-me permeável ao um novo nível sensorial,
que me estimulou o que normalmente não estimula no dia a dia quando tocava
outras pessoas.
“Olá, sempre vieste!”
“Tinhas dúvidas…”
“Já me aconteceu antes, acabar numa caça aos
gambuzinos. É sempre um risco que se corre, e sem correr riscos, pouco se
alcança, não é?”
“Tens razão!”
“E?”
“E o quê?”
“O que achas de mim?”
“O que achei quando falei contigo pela primeira vez. Mesmo
antes de te ver como nem a tua mãe alguma vez te viu! Ou pelo menos assim o
espero…”
Sorriu, meio envergonhado. “É verdade, ela nunca me
viu assim… tão animado como eu estava quando me tirei as fotos que te mandei!”
“Vocês homens, realmente são todos iguais. Tu não
acreditas mesmo que não é aquilo que faz com que algo venha a acontecer, pois
não?”
“Acaba por ser, ou duma maneira ou doutra, acaba por
assegurar a nossa “disponibilidade” para a ação.”
“Whatever…
adiante, percebeste o meu plano?”
“Percebi. E podes contar comigo.”
“Só quero que mantenhas isto bem presente: eu não
quero mandar umas por fora. Aquilo que eu quero de ti – caso aceites – é no
fundo usar-te como um objeto sexual nosso. vais ser um Dildo com pernas e
cabeça, que vais servir para o que te dissermos para servires! Se isto te fere
o teu orgulho de macho, ou te deixa intimidado, pensa bem porque não quero a
mínima confusão. Já basta o que isto pode provocar.”
“Eu entendi perfeitamente. Eu também não quero a mínima
confusão com a minha namorada, e quero muito participar numa cena destas. Em relação
às análises, eu também vou querer ver as vossas.”
“As minhas sem problema; as do meu marido é que vai
ser mais difícil…”
“Tu confias nele?”
“Acima de tudo, mas isso vale o que vale, não é? Ele também
confia em mim e olha-me aqui, a falar o que estou a falar contigo.”
“Tens razão…”
Conversámos
mais um pouco, eu tinha que apanhar o comboio das 15:48 para estar no
entroncamento por volta das cinco e pouco a tempo de ir buscar meu sobrinho à
escola, e ele acompanhou-me a Sª Apolónia no metro. Foi comigo até à plataforma
e eu sentia a sua necessidade por alguma coisa que lhe assegurasse que não
tinha perdido o seu tempo. Faltavam dez minutos para a hora do comboio, e
mandei tudo às urtigas quando o puxei para dentro da carruagem vazia que já lá
estava à espera. Dei-lhe o que ele precisava: uma oportunidade de me tocar. Chegou-se
atrás de mim e inclinou-se para me beijar o pescoço, apanhando-me o cabelo todo
numa mão cheia. Fraquejei nos joelhos e encostei-me mais a ele. Sentia-o pronto
por mim, e toquei-o.
Isso fê-lo voltar-me dentro dos seus braços grossos e
sem eu saber muito bem como estava a ser beijada com uma volúpia quase obscena
por outro homem que não conhecia de lado nenhum, e aquele beijo, mais do que as
suas mãos omnipresentes por todo o meu corpo, deixaram-me suficientemente
descontrolada ao ponto de ainda me ter passado um pensamento pela cabeça de não
apanhar aquele comboio e apanhar outro mais tarde.
Valeu-me ter entrado uma senhora mulata, que
discretamente fingiu que éramos transparentes e fez-me ganhar consciência de
que podia muito bem ser alguma das centenas de pessoas que todos os dias, a
toda a hora apanham o comboio de e para o Entroncamento.
Com o sabor do seu tesão na minha boca, pela forma
como ele mo fizera sentir com aquele beijo de tirar o fôlego até à mais
experiente mergulhadora, afastei-o. Empurrei-o para a porta e evitei olhar
sequer para ele antes que estivesse lá fora.
Não ficou à espera, foi embora fazendo o gesto de
teclar, indicando que falaríamos pelo Facebook, e fiquei a ver aquele rabo de
sonho a afastar-se.
Minha Nossa Senhora das Perdições! O que é que eu
tinha acabado de fazer? Ainda bem que fora tudo planeado para não ter mais
tempo; se doutra forma tivesse sido, o que era suposto ter sido um casting
teria sido logo a filmagem duma superprodução! E com mais sequelas do que a Star Wars!
Nesse dia ainda, pus o plano em ação. Referi por acaso
aquele novo “cliente” que queria deixar em livro a realidade dum polícia de
intervenção, o que passam nas operações pelos bairros problemáticos da
periferia da grande Lisboa, e disto e daquilo, referindo-o sempre com o distanciamento
necessário para parecer uma conversa casual, mas ao mesmo tempo que o Nando se
lembrasse dele.
E resultou.
Mais tarde, na cama, ele perguntou-me se eu sabia como
ele era. Disse-lhe que sim, claro. Que junto com o texto vinha imensas fotos
dele em ação. Menti-lhe que em todas elas ele aparecia com a balacava posta,
pois queria preservar a sua identidade, mas que devia ser um calmeirão
musculado, pela sua figura fardado.
Esperei mais um pouco; muito pouco mesmo, e enquanto
se posicionava no seu posto de combate cada vez mais frequente, pediu-me para o
imaginar. Não imaginava ele como eu já o vinha fazendo há dias, e como naquele
dia em particular isso me foi fácil.
Ficou todo inchado no ego por pensar que o meu estado
de excitação que lhe encheu a boca dos sucos de cio que eu passara a tarde a
segregar, se devessem todos a ele.
Como eu esperara, conforme a tesão o foi inebriando o
bom-senso, foi-me espicaçando, e espicaçando até que por fim eu explodi numa
verborreia insana a pedir-lhe que sim. Que queria que ele me arranjasse um
outro homem para me montar como a uma cadela no cio, que lhe queria dar esse
prazer, que queria ser assim puta dele, que ele me andava a deixar doida com
aquelas sugestões, e que queria sentir um outro homem a esporrar-se todo dentro
de mim enquanto ele me beijasse a boca com a língua e a mente com o olhar;
resultado? O esperado. Montou-me com a fúria dum touro enraivecido. Puxava-me
os cabelos fazendo-me arquear as costas e espetar-lhe as mamas na cara, abafou
a cara no meio delas e mordeu-me ora num ora noutro mamilos com uma força muito
além da comedida de quem se limita a fazer amor; fê-lo com a de quem fode, como
uma mulher deve ser fodida – pelo menos de vez em quando!
Pela primeira vez de há já um bom tempo, não se
retirou depois de se vir e continuou a bombar até se vir uma segunda vez.
Estávamos os dois alagados em suor e eu transbordava
de molho de macho. Não pensei que ele mantivesse o fulgor mental necessário
para a já habitual incursão pelos despojos do nosso prazer conjunto, mas
surpreendeu-me. Não era só eu que me tinha viciado naquele jogo perverso,
também ele se podia queixar dessa nova adição.
Éramos o vício e a cura, a origem e o fim do que o
outro precisava para nos realizarmos plena e sexualmente como homem e mulher,
como macho e fêmea.
Nem acreditei quando ele me pediu se podia ver uma
foto do J.G., e eu disse-lhe que lhas mostrava no dia seguinte.
Eu dera o empurrão inicial naquele novo mundo, tão
subtilmente como só uma mulher consegue e sabe fazer. E agora era só uma
questão de me agarrar bem e deixar-me ir naquilo que, sabia-o tão bem como um e
um são dois mas às vezes são três, acabaria por mais cedo do que imaginasse, me
veria numa cama de perna aberta debaixo daquele metro e oitenta e quatro de
policia bruto de intervenção, e a olhar para o olhar desvairado do Nando que,
de boca aberta não conseguiria disfarçar a sua urgência em sentir-me as carnes
moles todas empapadas em esporra de outro, para assim se excitar à doida e me
levar ao mais recôndito dos cantos do sétimo céu.
Dada a sua voracidade no que me estava a fazer, nem
hesitei em perguntar-lhe se ele o contactaria para organizar um fim de semana
alucinante de sexo; eu sabia que, como ele estava, a tudo responderia com um
irrefletido contudo sincero:
“Sim, se tu alinhares nisso, eu faço-o!”
“Ai amor, tu matas-me de tesão. E conseguiste!”
“Consegui o quê?”
“Transformaste uma lagarta numa borboleta! Uma esposa
numa puta; a tua esposa na tua e só tua puta!”
Nem as palavras que Ali Babá gritava à montanha eram
mais rápidas na eficácia em fazer a rocha mover-se como as minhas o moveram a
ele, que passou dum amolecido estado de pós prazer à mais rígida
prontidão, e agora com um misto de
tesão, paixão revestidas pelo cada vez maior amor que nos unia, procurou outra
vez o seu eterno e sempre cativo lugar no Universo: entre as minhas pernas e
dentro do meu ventre!
FIM
Como prometido, J. G. aqui tens!
Agradecimentos à minha querida amiga de armas, Rosa
Mateus pela sua autorização a referi-la e ao seu romance “RIBATEJO ARDENTE –
Segredo, Erotismo e Paixão”, que tanto me inspirou para o presente conto.
Espero que tenham gostado.
Dulce Torini
Gosteiiiiii !!!!
ResponderEliminarMuito bom. Acho que tenho tempo para ler mais qualquer coisa... que viciaste!
ResponderEliminarCris
uau, isto sim é um conto, um desejo tornado realidade!!! nao sei porque mas o mesmo pensamento anda me a desafiar para fazer o mesmo...,!!!!!!!!
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