Olá a todos, respondendo a mais um desafio da Dulce, e como se eu não tivesse mais nada que fazer - não é Dulce? - aqui vos deixo a forma como eu terminaria o "Sim, Mestre!"
Sim, Mestre!
Por Rosa S. Mateus
O mestre Mestre, sem sequer saber bem de que terra
era, com tal intensidade aquele orgasmo lhe sugara, juntamente com o seu
vermute, todo o sangue que normalmente irriga o cérebro para a sua outra cabeça
de homem, tentava a custo controlar as tremuras que lhe assomavam às pernas.
Tentou acertar a respiração, primeiro com a sua
necessidade de ar, e depois com o bater do coração; como era possível nunca
tampouco ter chegado perto dum nível de prazer como acabara de atingir, que só
uma palavra conseguia dar uma pálida ideia: magnificente!
O olhar da Filipa, doce como uma taça de mel,
procurava-lhe uma reação: um qualquer sinal de que o agradara condignamente;
algo que a sossegasse de que a sua prestação lhe garantiria uma recompensa
extra.
Aquelas golfadas do que ele tinha de mais seu, por
si só, eram já garante duma eterna e arrasadora memória daquela noite; da sua
primeira vez que sentira verdadeiramente capaz de deixar um homem de cabeça à
roda com o prazer que lhe proporcionara.
Como o seu agora confirmado poder como fêmea, era
tão incontestável, que conseguira derrear o mais enigmático, magnético, exigente,
másculo e subjugador exemplar varonil com quem alguma vez se tinha cruzado em
toda a sua vida.
Nada tivera que ver com amor; nada no Mestre a
fizera sentir um desejo de ternura ou de carinho ou de qualquer outro dos
inúmeros aspetos duma normal relação entre um homem e uma mulher; nada!
Ou não?
Ou seria aquele afinal um dos aspetos numa relação
entre um homem e uma mulher, que, mais do que normal era imprescindível?
Perdeu-se nesse enigma, enquanto processava tudo o que via e sentia ali assim
de joelhos com aquele intenso sabor a interdito na língua e no espírito,
enquanto olhava de baixo para aquele, assim ainda mais, imponente e arrebatador
homem que não era o seu mas que a fizera dele como nunca o marido conseguira.
Ter saciado a sua sede de homem, despertou-lhe a
fome de virilidade; e a forma como se sentiu salivar da sua outra boca – a boca
do corpo – de mulher, impeliu-a a urgir um outro passo na direção que esperava
que o mestre Mestre tomasse: a duma conclusão, duma finalização da sua posse, e
ulterior prazer supremo que lhe daria no percurso que terminaria quando e só
quando ele bem entendesse. Soube, como qualquer bombeiro saberia se se
deparasse com o fogo do inferno para apagar, pelas brasas com que ele a olhava
que demoraria no mínimo bastante tempo; muito mais tempo do que a permitiria
chegar a tempo antes do marido.
Esse pensamento trouxe-lhe paz! Finalmente sentiu
toda aquela angústia, de sempre – de não perceber porque procurava ele noutras
o que procurava – ser apaziguada por uma tranquilizante certeza: não, não era
um problema dela; não era ela que não tinha o que devia ter para agradar a um
homem; não, não era dalguma parte de si, que a sua demasiadamente balizada
educação cristã e permanente excisão mental em que as matriarcas
manipuladoramente a haviam deixado crescer, que lhe faltava!
Não era nela que o problema devia ser procurado, mas
sim no marido! E paz maior encontrou quando o imaginou a ele em todas aquelas
eternidades que ela passara de pernas enroladas sob si mesma no canto do sofá,
encontrando no intenso aperto duma almofada o único meio de a confortar da sua
frustração pelo que o marido tardava em não aparecer, vindo de sabia-se lá
donde; uma paz que era a mesma paz que ele devia sentir se nela pensasse e
contudo continuasse a sua desprovida de escrúpulos e egoísta busca de prazer!
Prazer, que agora era a vez dela de o ter!
Por anos e anos a fio depositara as suas poupanças
numa conta onde ajuntara uma maquia milionária e agora era chegada a hora do
resgate! Queria levantar tudo o que era seu por direito, e queria-o com todos
os juros e dividendos, que era para encerrar a conta definitivamente.
Encontrara um outro destino onde elas seriam mais valorizadas; e seria às mãos
daquele Mestre que ela confiaria aquele capital, para que ele o rentabilizasse
e lhe soubesse devolver sob a forma duma renda vitalícia de prazer ilimitado.
O Luís puxou-a para que se levantasse, ela fê-lo
colada a ele. Ele segurava ainda a gravata que fora venda e ela juntou as mãos
para lha tirar.
Deixou-a, pensou que ela não quisesse mais adentrar
aquela obscura floresta de desejos submissos, mas a forma como ela, continuou a
segurar a gravata e, depois de rodar sobre si mesma as voltou novamente a
juntar atrás das costas, fê-lo sentir um soco na barriga: ela queria que ele
lhe amarrasse as mãos com a gravata venda, agora algema.
Ele, antes de a manietar, como se para se assegurar
quão disposta e segura estava do que lhe pedia, agarrou-a pelo cabelo, desta
vez com força, rangeu os dentes quando pressentiu o seu instinto de lidador
deixar claro que se fosse solto, nenhum deles esperasse maciezas e
comedimentos, e puxou-os retesando o braço como D. Fuas há de ter feito quando
à beira do abismo se apercebeu do que o esperava um passo à frente; e como a
montada se soergueu sobre as patas traseiras, também ela se dobrou toda àquele
puxo.
Ela esperava que ele o fizesse, não com tanta força,
nem que lhe provocasse tanta dor, e gemeu o prazer da surpresa. E o mestre que
o Mestre, até ali ainda refreara, tomou por fim conta do que ainda mal
começara. Amarrou-lhe os pulsos com força, numa sucessão de nós cegos e
apertados que fizeram a Filipa tremer pela renovada e intensificada vulnerabilidade
e garantiram ao Mestre que nunca na vida aqueles nós seriam desfeitos – quer
figurada, quer literalmente – e que para a soltar só a talho de faca!
Ela sentiu-o a guiá-la para o centro do quarto; com
a ponta do pé tocou num painel da parede que se abriu com a pressão e seguiu o
puxo da mola que o fazia girar cento e oitenta graus revelando o espelho do
chão ao teto que escondia da parte de trás.
Entre a dor contínua que o puxo dos cabelos a
impedia de parar de sentir, e o impacto da visão da sua subjugação à mercê
daquele homem enorme, soltou um outro gemido – mais forte, mais dorido – e
esperou.
Ele não a chegou a soltar, mas aliviou um pouco a
força. Não por condescender ao seu lamento, mas para preparar ainda mais; como
um animal feroz que prova sangue fica impreterivelmente aficionado ao seu
sabor, também o Mestre ficaria para sempre adicto àquele inimitável e
perigosamente viciante som de submissão. Puxou o cadeirão, pesado e com braços,
de frente do toucador e colocou-o rudemente em frente dela, e mais uma vez
retomando toda a garra nas crinas da Filipa, dobrou-a sobre as costas do tal.
Sem nunca a soltar, separou-lhe as pernas com os pés até que ela dividisse o
seu peso entre os dois dela e a barriga. Ao mesmo tempo que a obrigou a olhá-lo
no reflexo do espelho; como um quente em manteiga mole, enterrou-lhe o seu
punhal de prazer até ao cabo, não lhe dando sequer tempo de respirar novamente
antes de ainda mais fundo lho reafirmar quando um ainda mais forte puxão pelos
cabelos a fez sentir o esplendor duma penetração lascivamente dolorosa.
A Filipa percebeu enfim o que estabilizaria o ímpeto
matador dele num perfeito equilíbrio com o seu desejo de às suas mãos entregara
a vida numa morte de prazer; a tão deliciosa morte de prazer inerente à sublimação
do êxtase sexual!
Não durou muito! Nem ela própria acreditou quão
rápida e enormemente aquele novo responsável pelas suas economias de
sensualidade a reembolsaria da primeira tranche; de tal modo se surpreendeu que
receou que tivesse sido uma devolução total do depósito inicial que ela lhe
confiara – foi numa e duma só vez, o mesmo prazer que, se somado, sentira em
toda a sua vida! Pensou que não seria possível, depois daquilo, ele alguma vez
lhe voltar a conseguir assegurar aquele manancial que ela fantasiara.
Justificado erro e inequívoco sinal da sua
inexperiência; como minutos depois reconheceria quando nova entrega ele lhe
devolveu quando em gritos e suplicas sem nexo para que ele por favor, por Deus,
por tudo e pelas suas duas mães: a que era Santa e a valente cabra, porque
àquilo a conseguira vedar toda a amostra de vida até aí vivida e que só agora
passaria a viver efetivamente.
Mestre, que mestrado se julgava em levar mulheres ao
prazer, soube então que até àquele dia nunca fora mais que um mero aprendiz;
nunca soubera nem nunca vira sequer o que era afinal uma mulher a ter prazer –
nunca!
Queria continuar indefinidamente. Queria perpetuar
aquele momento de partilha entre dois seres que conheciam por fim um outro
patamar – não, patamar é pouco! – uma nova dimensão de prazer; mas não
conseguiu!
A mensagem subliminar que a Filipa, quer através dos
gritos e gemidos, quer através das contrações com a sua feminilidade lhe
massajaram a lâmina, reteve-a e entendeu-a o seu corpo; era uma ordem para que
através da sua nova explosão, lhe proporcionasse a dela – uma que queria plena
e arrasadora, como só sentindo o depor das armas de um homem, uma mulher
consegue conhecer.
A recente e fresca recordação da surpresa dos jatos
na sua boca, deixaram-na inconscientemente alerta e sensível a todas as futuras
manifestações da mesma sensação, fosse onde fosse do seu corpo, por isso,
quando nova oportunidade pressentiu de a mesma sensação reviver, toda a sua
alma se lhe dedicou: não imaginava – nada, alguma vez, a preparara para que o
fizesse – onde, a mesma sensação, na sua mais sua intimidade a levaria! Parte
do cérebro parou-lhe, e a outra parte ficou a bater mal. O êxtase foi forte
demais para que ela conseguisse manter a consciência; foi-se numa alternância
de gemidos, gritos que pareciam lamentos, e de outros que lembravam os mantras
do yoga, só que entoados num registo
exageradamente alto.
No meio de toda aquela corrente de estímulos, um
pensamento assomou-lhe a mente: que soberba justiça seria, se o marido a visse
naquele preciso e exato momento, em que bem no fundo do seu útero se sentia a
receber tamanha descarga viril de um homem que a fazia sua; a imagem daqueles
olhos vazios e sem brilho a olhá-la incrédulos, acender-se-iam seguramente
naquela merecida condenação por todos os tormentos e humilhações a que a
votara.
Tal imagem acabou com o resto dela que ainda
funcionava. Veio-se numa sucessão de orgasmos interminável que se estendeu por
uns eternos dois minutos, ou mais ainda, após o que perdeu completamente a –
pouca – consciência que ainda lhe subsistia.
Quando a sentiu imóvel, Mestre descravou-se
lentamente do corpo da mulher que jazia inerte; a Filipa, à exceção das costas
que conforme respirava, contraiam e expandiam, aparentava ter deixado o, este,
mundo.
No gozo que ia esmorecendo, nem um som fazia.
Porque só perdendo algo se lhe sente a falta, pela
morte que experienciara, a Filipa soube por fim que vivia – soube porque se
sentiu voltar à vida, e soube que morrera porque a vira a ir-se quando o sentiu
esvair-se. Um mesmo e único momento da mais jubilante simbiose: esvaíra-se ele,
enchera-se ela; o gozo dela, que o fizera gozar a ele, originou por sua vez o
dela – o derradeiro e incomparavelmente superior – por ser mulher!
Que nisto de prazeres e gozos, por grandioso que o
de um homem seja, comparado ao que uma mulher sente nunca passa duma pequena
ideia comparada com uma genial revelação! E é simples de entender que assim
seja: uma mulher, se bem ligada e acesa, torna-se toda ela dos pés à cabeça
“zona erógena” ou ponto G, ambas risíveis teorias seguramente lançadas por
algum iluminado (homem, só pode!) dalguma vez que descobriu o que era possível
despoletar quando se tocava uma mulher – mas esqueceu-se foi de ver o que
acontece quando se toca toda, no corpo e na mente!
A Filipa, feita boneca de farrapos, sentiu-se erguida
pelos ombros. O mestre Mestre, agora simplesmente Luís, amparou-a e depô-la
suavemente na cama, deitada de lado.
Foi buscar à gaveta do toucador uma tesoura com que
cumpriu a sentença a que condenara a gravata, e ajudou-a a rodar-se para que
ficasse deitada de costas.
Passou-lhe um dedo desde a ponta do dedo grande do
pé, lentamente, pelo corpo todo, circundou-lhe o umbigo perfeito e veio a
terminar, depois de se demorar um pouco naquele ponto que fez o outro do pátio
das cantigas fazer um brilharete no exame de medicina, de longe o mais perfeito
que ele alguma vez vira, veio a terminar na sua face agora menos ruborizada.
Ela abriu os olhos para, pela primeira vez o ver sob
uma irresistível vontade de lhe dar e sentir um carinho.
“Beija-me.”
O Mestre, agora já não - ou pelo menos não por agora
– mestre baixou-se e parou a centímetros da boca dela. A certeza de que a sua
vida mudara naquela noite fê-lo deter-se.
“O que é que aconteceu aqui, dizes-me?”
“Não sei, diz-me tu; afinal quem é o mestre?”
Ele parou de a olhar nos olhos e olhou-a para lá
deles. Perdeu-se na mente dela e soube que, embora fosse infantilmente cedo
demais para o sentir, também ela como ele se tinha apaixonado.
“Não há ninguém que queiras avisar?”
“Não.”
FIM
Golegã, 10 de junho de 2014
Rosa Mateus
....................................................................................................................................................
E pronto, é isto; como alguém disse um dia, Se queres ser melhor, dá-te com os melhores...
Palavras para quê? Percebem agora o que eu digo quando falo como falo dela? Depois disto vou-me ali enrolar debaixo duma pedra e deixar-me morrer...
Calma, estou a brincar... que isto é tudo uma questão de tempo, de crer e de insistir!
Obrigada amiga, és a maior, m'lhere!
Muito bom.... Todo o blog...
ResponderEliminarObrigada! volte sempre, e... ajude-me a divulgá-lo! :)
EliminarMaravilhaaaaa...adoreiiiii !!!!
ResponderEliminarDiria mais.... Magnificente !!!! onde é que eu já li isto? :)
ResponderEliminar