terça-feira, 10 de junho de 2014

Sim, Mestre! (3ª parte - final) por Rosa Mateus


Olá a todos, respondendo a mais um desafio da Dulce, e como se eu não tivesse mais nada que fazer - não é Dulce? - aqui vos deixo a forma como eu terminaria o "Sim, Mestre!"

Sim, Mestre!
Por Rosa S. Mateus 

O mestre Mestre, sem sequer saber bem de que terra era, com tal intensidade aquele orgasmo lhe sugara, juntamente com o seu vermute, todo o sangue que normalmente irriga o cérebro para a sua outra cabeça de homem, tentava a custo controlar as tremuras que lhe assomavam às pernas.
Tentou acertar a respiração, primeiro com a sua necessidade de ar, e depois com o bater do coração; como era possível nunca tampouco ter chegado perto dum nível de prazer como acabara de atingir, que só uma palavra conseguia dar uma pálida ideia: magnificente!
O olhar da Filipa, doce como uma taça de mel, procurava-lhe uma reação: um qualquer sinal de que o agradara condignamente; algo que a sossegasse de que a sua prestação lhe garantiria uma recompensa extra.
Aquelas golfadas do que ele tinha de mais seu, por si só, eram já garante duma eterna e arrasadora memória daquela noite; da sua primeira vez que sentira verdadeiramente capaz de deixar um homem de cabeça à roda com o prazer que lhe proporcionara.
Como o seu agora confirmado poder como fêmea, era tão incontestável, que conseguira derrear o mais enigmático, magnético, exigente, másculo e subjugador exemplar varonil com quem alguma vez se tinha cruzado em toda a sua vida.
Nada tivera que ver com amor; nada no Mestre a fizera sentir um desejo de ternura ou de carinho ou de qualquer outro dos inúmeros aspetos duma normal relação entre um homem e uma mulher; nada!
Ou não?
Ou seria aquele afinal um dos aspetos numa relação entre um homem e uma mulher, que, mais do que normal era imprescindível? Perdeu-se nesse enigma, enquanto processava tudo o que via e sentia ali assim de joelhos com aquele intenso sabor a interdito na língua e no espírito, enquanto olhava de baixo para aquele, assim ainda mais, imponente e arrebatador homem que não era o seu mas que a fizera dele como nunca o marido conseguira.
Ter saciado a sua sede de homem, despertou-lhe a fome de virilidade; e a forma como se sentiu salivar da sua outra boca – a boca do corpo – de mulher, impeliu-a a urgir um outro passo na direção que esperava que o mestre Mestre tomasse: a duma conclusão, duma finalização da sua posse, e ulterior prazer supremo que lhe daria no percurso que terminaria quando e só quando ele bem entendesse. Soube, como qualquer bombeiro saberia se se deparasse com o fogo do inferno para apagar, pelas brasas com que ele a olhava que demoraria no mínimo bastante tempo; muito mais tempo do que a permitiria chegar a tempo antes do marido.
Esse pensamento trouxe-lhe paz! Finalmente sentiu toda aquela angústia, de sempre – de não perceber porque procurava ele noutras o que procurava – ser apaziguada por uma tranquilizante certeza: não, não era um problema dela; não era ela que não tinha o que devia ter para agradar a um homem; não, não era dalguma parte de si, que a sua demasiadamente balizada educação cristã e permanente excisão mental em que as matriarcas manipuladoramente a haviam deixado crescer, que lhe faltava!
Não era nela que o problema devia ser procurado, mas sim no marido! E paz maior encontrou quando o imaginou a ele em todas aquelas eternidades que ela passara de pernas enroladas sob si mesma no canto do sofá, encontrando no intenso aperto duma almofada o único meio de a confortar da sua frustração pelo que o marido tardava em não aparecer, vindo de sabia-se lá donde; uma paz que era a mesma paz que ele devia sentir se nela pensasse e contudo continuasse a sua desprovida de escrúpulos e egoísta busca de prazer!
Prazer, que agora era a vez dela de o ter!
Por anos e anos a fio depositara as suas poupanças numa conta onde ajuntara uma maquia milionária e agora era chegada a hora do resgate! Queria levantar tudo o que era seu por direito, e queria-o com todos os juros e dividendos, que era para encerrar a conta definitivamente. Encontrara um outro destino onde elas seriam mais valorizadas; e seria às mãos daquele Mestre que ela confiaria aquele capital, para que ele o rentabilizasse e lhe soubesse devolver sob a forma duma renda vitalícia de prazer ilimitado.
O Luís puxou-a para que se levantasse, ela fê-lo colada a ele. Ele segurava ainda a gravata que fora venda e ela juntou as mãos para lha tirar.
Deixou-a, pensou que ela não quisesse mais adentrar aquela obscura floresta de desejos submissos, mas a forma como ela, continuou a segurar a gravata e, depois de rodar sobre si mesma as voltou novamente a juntar atrás das costas, fê-lo sentir um soco na barriga: ela queria que ele lhe amarrasse as mãos com a gravata venda, agora algema.
Ele, antes de a manietar, como se para se assegurar quão disposta e segura estava do que lhe pedia, agarrou-a pelo cabelo, desta vez com força, rangeu os dentes quando pressentiu o seu instinto de lidador deixar claro que se fosse solto, nenhum deles esperasse maciezas e comedimentos, e puxou-os retesando o braço como D. Fuas há de ter feito quando à beira do abismo se apercebeu do que o esperava um passo à frente; e como a montada se soergueu sobre as patas traseiras, também ela se dobrou toda àquele puxo.
Ela esperava que ele o fizesse, não com tanta força, nem que lhe provocasse tanta dor, e gemeu o prazer da surpresa. E o mestre que o Mestre, até ali ainda refreara, tomou por fim conta do que ainda mal começara. Amarrou-lhe os pulsos com força, numa sucessão de nós cegos e apertados que fizeram a Filipa tremer pela renovada e intensificada vulnerabilidade e garantiram ao Mestre que nunca na vida aqueles nós seriam desfeitos – quer figurada, quer literalmente – e que para a soltar só a talho de faca!
Ela sentiu-o a guiá-la para o centro do quarto; com a ponta do pé tocou num painel da parede que se abriu com a pressão e seguiu o puxo da mola que o fazia girar cento e oitenta graus revelando o espelho do chão ao teto que escondia da parte de trás.
Entre a dor contínua que o puxo dos cabelos a impedia de parar de sentir, e o impacto da visão da sua subjugação à mercê daquele homem enorme, soltou um outro gemido – mais forte, mais dorido – e esperou.
Ele não a chegou a soltar, mas aliviou um pouco a força. Não por condescender ao seu lamento, mas para preparar ainda mais; como um animal feroz que prova sangue fica impreterivelmente aficionado ao seu sabor, também o Mestre ficaria para sempre adicto àquele inimitável e perigosamente viciante som de submissão. Puxou o cadeirão, pesado e com braços, de frente do toucador e colocou-o rudemente em frente dela, e mais uma vez retomando toda a garra nas crinas da Filipa, dobrou-a sobre as costas do tal. Sem nunca a soltar, separou-lhe as pernas com os pés até que ela dividisse o seu peso entre os dois dela e a barriga. Ao mesmo tempo que a obrigou a olhá-lo no reflexo do espelho; como um quente em manteiga mole, enterrou-lhe o seu punhal de prazer até ao cabo, não lhe dando sequer tempo de respirar novamente antes de ainda mais fundo lho reafirmar quando um ainda mais forte puxão pelos cabelos a fez sentir o esplendor duma penetração lascivamente dolorosa.
A Filipa percebeu enfim o que estabilizaria o ímpeto matador dele num perfeito equilíbrio com o seu desejo de às suas mãos entregara a vida numa morte de prazer; a tão deliciosa morte de prazer inerente à sublimação do êxtase sexual!
Não durou muito! Nem ela própria acreditou quão rápida e enormemente aquele novo responsável pelas suas economias de sensualidade a reembolsaria da primeira tranche; de tal modo se surpreendeu que receou que tivesse sido uma devolução total do depósito inicial que ela lhe confiara – foi numa e duma só vez, o mesmo prazer que, se somado, sentira em toda a sua vida! Pensou que não seria possível, depois daquilo, ele alguma vez lhe voltar a conseguir assegurar aquele manancial que ela fantasiara.
Justificado erro e inequívoco sinal da sua inexperiência; como minutos depois reconheceria quando nova entrega ele lhe devolveu quando em gritos e suplicas sem nexo para que ele por favor, por Deus, por tudo e pelas suas duas mães: a que era Santa e a valente cabra, porque àquilo a conseguira vedar toda a amostra de vida até aí vivida e que só agora passaria a viver efetivamente.
Mestre, que mestrado se julgava em levar mulheres ao prazer, soube então que até àquele dia nunca fora mais que um mero aprendiz; nunca soubera nem nunca vira sequer o que era afinal uma mulher a ter prazer – nunca!
Queria continuar indefinidamente. Queria perpetuar aquele momento de partilha entre dois seres que conheciam por fim um outro patamar – não, patamar é pouco! – uma nova dimensão de prazer; mas não conseguiu!
A mensagem subliminar que a Filipa, quer através dos gritos e gemidos, quer através das contrações com a sua feminilidade lhe massajaram a lâmina, reteve-a e entendeu-a o seu corpo; era uma ordem para que através da sua nova explosão, lhe proporcionasse a dela – uma que queria plena e arrasadora, como só sentindo o depor das armas de um homem, uma mulher consegue conhecer.
A recente e fresca recordação da surpresa dos jatos na sua boca, deixaram-na inconscientemente alerta e sensível a todas as futuras manifestações da mesma sensação, fosse onde fosse do seu corpo, por isso, quando nova oportunidade pressentiu de a mesma sensação reviver, toda a sua alma se lhe dedicou: não imaginava – nada, alguma vez, a preparara para que o fizesse – onde, a mesma sensação, na sua mais sua intimidade a levaria! Parte do cérebro parou-lhe, e a outra parte ficou a bater mal. O êxtase foi forte demais para que ela conseguisse manter a consciência; foi-se numa alternância de gemidos, gritos que pareciam lamentos, e de outros que lembravam os mantras do yoga, só que entoados num registo exageradamente alto.
No meio de toda aquela corrente de estímulos, um pensamento assomou-lhe a mente: que soberba justiça seria, se o marido a visse naquele preciso e exato momento, em que bem no fundo do seu útero se sentia a receber tamanha descarga viril de um homem que a fazia sua; a imagem daqueles olhos vazios e sem brilho a olhá-la incrédulos, acender-se-iam seguramente naquela merecida condenação por todos os tormentos e humilhações a que a votara.
Tal imagem acabou com o resto dela que ainda funcionava. Veio-se numa sucessão de orgasmos interminável que se estendeu por uns eternos dois minutos, ou mais ainda, após o que perdeu completamente a – pouca – consciência que ainda lhe subsistia.  
Quando a sentiu imóvel, Mestre descravou-se lentamente do corpo da mulher que jazia inerte; a Filipa, à exceção das costas que conforme respirava, contraiam e expandiam, aparentava ter deixado o, este, mundo.
No gozo que ia esmorecendo, nem um som fazia.
Porque só perdendo algo se lhe sente a falta, pela morte que experienciara, a Filipa soube por fim que vivia – soube porque se sentiu voltar à vida, e soube que morrera porque a vira a ir-se quando o sentiu esvair-se. Um mesmo e único momento da mais jubilante simbiose: esvaíra-se ele, enchera-se ela; o gozo dela, que o fizera gozar a ele, originou por sua vez o dela – o derradeiro e incomparavelmente superior – por ser mulher!
Que nisto de prazeres e gozos, por grandioso que o de um homem seja, comparado ao que uma mulher sente nunca passa duma pequena ideia comparada com uma genial revelação! E é simples de entender que assim seja: uma mulher, se bem ligada e acesa, torna-se toda ela dos pés à cabeça “zona erógena” ou ponto G, ambas risíveis teorias seguramente lançadas por algum iluminado (homem, só pode!) dalguma vez que descobriu o que era possível despoletar quando se tocava uma mulher – mas esqueceu-se foi de ver o que acontece quando se toca toda, no corpo e na mente!
A Filipa, feita boneca de farrapos, sentiu-se erguida pelos ombros. O mestre Mestre, agora simplesmente Luís, amparou-a e depô-la suavemente na cama, deitada de lado.
Foi buscar à gaveta do toucador uma tesoura com que cumpriu a sentença a que condenara a gravata, e ajudou-a a rodar-se para que ficasse deitada de costas.
Passou-lhe um dedo desde a ponta do dedo grande do pé, lentamente, pelo corpo todo, circundou-lhe o umbigo perfeito e veio a terminar, depois de se demorar um pouco naquele ponto que fez o outro do pátio das cantigas fazer um brilharete no exame de medicina, de longe o mais perfeito que ele alguma vez vira, veio a terminar na sua face agora menos ruborizada.
Ela abriu os olhos para, pela primeira vez o ver sob uma irresistível vontade de lhe dar e sentir um carinho.
“Beija-me.”
O Mestre, agora já não - ou pelo menos não por agora – mestre baixou-se e parou a centímetros da boca dela. A certeza de que a sua vida mudara naquela noite fê-lo deter-se.
“O que é que aconteceu aqui, dizes-me?”
“Não sei, diz-me tu; afinal quem é o mestre?”
Ele parou de a olhar nos olhos e olhou-a para lá deles. Perdeu-se na mente dela e soube que, embora fosse infantilmente cedo demais para o sentir, também ela como ele se tinha apaixonado.
“Não há ninguém que queiras avisar?”

“Não.”

FIM


Golegã, 10 de junho de 2014
Rosa Mateus

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E pronto, é isto; como alguém disse um dia, Se queres ser melhor, dá-te com os melhores...
Palavras para quê? Percebem agora o que eu digo quando falo como falo dela? Depois disto vou-me ali enrolar debaixo duma pedra e deixar-me morrer...  
Calma, estou a brincar... que isto é tudo uma questão de tempo, de crer e de insistir!

Obrigada amiga, és a maior, m'lhere! 

4 comentários:

  1. Muito bom.... Todo o blog...

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    1. Obrigada! volte sempre, e... ajude-me a divulgá-lo! :)

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  2. Maravilhaaaaa...adoreiiiii !!!!

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  3. Diria mais.... Magnificente !!!! onde é que eu já li isto? :)

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"A maior desgraça que pode acontecer a qualquer escrito que se publica, não é muitas pessoas dizerem mal, é ninguém dizer nada." Nicolas Boileau